CRÍTICA | Mommy

Direção: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan
Elenco: Anne Dorval, Antoine-Olivier Pilon e Suzanne Clément
Origem: Canadá/França
Ano: 2014


Quis o destino irônico que eu assistisse a Mommy em pleno Dia das Mães, data em que se encerrou o Festival Sesc Melhores Filmes. Digo isso pois a obra canadense/francesa, ainda que trate sobre maternidade, é um soco no estômago do espectador, por tratar o amor de mãe e filho levados as últimas consequências. Será que o sentimento basta para uma boa relação? Ou pior, será que conseguimos ter frieza e maturidade suficiente para perceber que, as vezes, o melhor para nosso filho é estar longe da gente? Ou vice e versa.

Na trama, Diane (Anne Dorval) é uma mãe viúva que se vê sobrecarregada ao retomar a guarda do filho de 15 anos, que foi expulso do reformatório onde vivia após atear fogo no refeitório do local. Steve (Antoine-Olivier Pilon), o filho, é um garoto hiperativo e com déficit de atenção, o que torna a relação deles bastante conturbada. É então que Kyla (Suzanne Clément), uma vizinha, se oferece para tentar ajudá-los, e juntos eles encontram um improvável equilíbrio que parece fazer tudo melhorar.

Me surpreendeu a forma como o diretor e roteirista Xavier Dolan (Amores Imaginários) constrói uma estética visual moderna e colorida para um longa excessivamente dramático. A extravagância dos figurinos de Diane e Steve em contraponto ao  conservadorismo de Kyla, diz muito sobre aqueles personagens, e certamente ajudam na construção dos atores, que desenvolveram belos trabalhos. Pilon especialmente, numa atuação explosiva e visceral.

Além disso, Dolan utiliza de uma trilha sonora marcante, pautada nos anos 90, quase como um personagem da obra. Notem como, por diversas vezes, o diretor elava a música por minutos, nos deixando contemplar imagens dos protagonistas em câmera lenta, por vezes saindo de foco, quase como uma experiência catártica.

O grande diferencial de Mommy, porém, está no aspecto de tela no qual é rodado. Utilizando de proporção 1x1, o cineasta enquadra as cenas literalmente em um quadrado, conferindo um tom quase claustrofóbico à obra, visto que nossa visão fica limitada ao que está diante de nossos olhos, sem qualquer visão periférica. Nossa atenção fica voltada pura e unicamente aos atores que ali estão, o que é positivo. No entanto, sua real intenção é revelada quando, em determinado momento, o aspecto se abre e preenche toda a tela. Não falarei a respeito aqui para não estragar a surpresa de quem irá assistir, mas trata-se de uma decisão singela, mas de grande beleza. Certamente o melhor momento do longa.

O longa nos faz refletir por alguns minutos após sua exibição, nos deixando com uma sensação melancólica inevitável, prova de que seu objetivo narrativo foi alcançado. Falta, no entanto, um roteiro um pouco mais atrativo ou talvez alguns minutos a menos na sala de edição. Continua um bom filme, com um diretor bastante promissor.

Bom


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 Trailer: 



Festival Sesc Melhores Filmes aconteceu de 5 a 10 de maio, em diversas cidades do Estado de São Paulo. O Cinéfilo em Série cobriu os eventos realizados em Santos/SP à convite do Cine Roxy, ao qual deixo meus sinceros agradecimentos.

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