CRÍTICA | Pelo Malo

Direção: Mariana Rondón
Roteiro: Mariana Rondón
Elenco: Samuel Lange Zambrano, Nelly Ramos, Samantha Castillo, Beto Benites e María Emilia Sulbarán
Origem: Venezuela/Peru/Argentina/Alemanha
Ano: 2013



Pelo Malo, que numa tradução aproximada significa "cabelo ruim", narra a história de um garotinho de 9 anos chamado Junior (Samuel Lange Zambrano). De cabelo crespo, ele sonha em alisar as madeixas para ficar parecido com um cantor famoso e, assim, poder tirar a foto para seu álbum de formatura. Sua obsessão pelo cabelo liso o faz entrar em constante conflito com sua mãe, Marta (Samantha Castillo), que parece frequentemente perder a paciência devido a luta diária que enfrenta para manter a casa e sustentar os filhos após a morte do marido.

Costumo dizer que esse é o tipo de filme que assisto uma vez, para nunca mais. Não que seja uma obra ruim, pelo contrário, mas o pesar e a lamentação que proporciona ao assisti-lo incomoda na alma, e torna difícil crescer a vontade de revisitá-lo. Por outro lado, analisando friamente, o despertar de tal sentimento mostra que a diretora e roteirista Mariana Rondón foi bem sucedida em sua empreitada, uma vez que Pelo Malo passa uma clara mensagem de desigualdade social e perda de sonhos.

É a mãe que precisa deitar-se com o chefe para não perder o emprego, pois sem o dinheiro não tem como pagar a vizinha que toma conta de seus filhos para ela poder ir trabalhar. É a garotinha que sonha em ser princesa, o garotinho que sonha em ser cantor (aqui poderia querer ser jogador de futebol), a pobreza avassaladora, a batalha do dia a dia. Rondón retrata uma realidade muito palpável a nós, brasileiros, uma similaridade que machuca, especialmente quando vemos duas crianças perambularem por ruas movimentadas durante toda a tarde, sozinhas, como se brincassem no quintal de casa.

Filmando em locação (no que aparenta ser um complexo de favelas venezuelanas) em quase todo o tempo, a diretora aposta na simulação de luz natural para trazer verossimilhança as cenas. A identidade visual criada aqui lembra muito a de obras como Cidade de Deus ou Cidade dos Homens, o que reforça a ideia de realidades semelhantes. Além disso, Rondón abusa de ângulos inferiores, enquadramentos de baixo para cima, que engrandecem os prédios imensos, tornando-os opressores perante a imagem do pequeno Junior, que em sua jornada individual me fez lembrar de Indomável Sonhadora, outro bom exemplo de infância interrompida.

Pelo Malo mostra-se uma obra competente, que incomoda pela triste realidade mostrada, mas que passa sua mensagem com objetividade e crueza necessárias para tocar o espectador. Talvez o mais triste seja ver a perda de um sonho retratado em tela. Não entrarei em detalhes para não estragar a experiência de quem for assistir, mas enquanto vivermos para ver nossas crianças terem seus sonhos interrompidos abruptamente, dificilmente teremos um mundo melhor no futuro.

Bom


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 Trailer: 



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