The People v. O.J. Simpson | American Crime Story


Você conhece O.J. Simpson? Trata-se de um prestigiado ex-jogador de futebol americano que na década de 90 estava no auge da fama após estrelar a trilogia Corra Que a Polícia Vem Aí ao lado de Leslie Nielsen. Em junho de 1994, pouquíssimo tempo após o lançamento do terceiro filme da franquia, O.J. foi acusado de assassinar a ex-esposa, Nicole Brown, e seu amigo, Ronald Goldman, ambos encontrados em frente à casa da mulher com múltiplas facadas. Simpson então foi detido e levado a um julgamento que durou mais de 1 ano e tomou proporções midiáticas sem precedentes, mudando a vida de todos os envolvidos. O caso é historicamente lembrado como um dos capítulos mais aterradores da história norte-americana recente devido ao seu desdobramento espetaculoso. 

The People v. O.J. Simpson se propõe a contar essa história de maneira detalhada e cinematográfica, é a primeira temporada da antologia American Crime Story, exibida originalmente pelo canal FX e que promete tratar de grandes casos criminosos ocorridos na terra do Tio Sam. E que ótima maneira de começar, não é mesmo? 

Essa temporada foi uma grata surpresa a mim como espectador, especialmente pelo fato de eu ser muito jovem quando tudo aconteceu, lá na década de 90, de forma que a cada reviravolta que a trama proporcionava eu era legitimamente surpreendido, justamente por não conhecer os pormenores do ocorrido. E se não soubesse que tudo se baseia fielmente em fatos reais, acabaria duvidando da veracidade de tudo que se passou. E quando uso o adjetivo “espetaculoso” no primeiro parágrafo não é exagero. A sucessão dos fatos que levaram à prisão de O.J. Simpson e as evidências que foram exaustivamente discutidas em tribunal por vezes pareciam obras de ficção, de tão surreais que foram os acontecimentos. 


Não quero abordar fatos específicos da história para não estragar a surpresa de ninguém que, como eu, ainda não conhecia os detalhes da trama, porém, é interessante afirmar a quantidade de temas altamente relevantes discutidos ao longo dos 10 episódios da série. Racismo, preconceito, machismo, violência doméstica, ética profissional, são apenas alguns dos pontos abordados de forma inteligente e a favor da narrativa. Os fatos ajudam nesse sentido, pois trata-se de um evento que parece ter nascido pronto para ser adaptado a TV/cinema. 

Falando um pouco dos aspectos técnicos, devo dizer que fiquei impressionado, especialmente com a direção de arte. A reconstituição de época com figurinos, penteados, maquiagem, decorações e cenários são impecáveis. Poucas vezes me vi tão imerso a uma realidade como a proposta por American Crime Story, era como assistir a um filme rodado no início da década de 90, e não um filme feito para parecer a década de 90, sem exageros. A fotografia calorosa das ruas de Los Angeles contribui e muito para que o espectador tenha essa sensação. 

E se acima falei de figurinos, penteados e maquiagem, é imprescindível ressaltar a fidelidade com que foram adaptados. A comparação do visual dos atores com as personalidades reais que participaram do caso é inevitável e não decepciona, tamanha a riqueza de detalhes. Alguns realmente impressionam pela semelhança, como podem perceber na imagem abaixo. 


Evidentemente nada disso funcionaria se o elenco não tivesse afiado e aqui os grandes nomes em tela não decepcionam. Meu destaque vai para Sarah Paulson no papel de Marcia Clark, a promotora de acusação que representa o povo, e Courtney B. Vance no papel de Johnnie Cochran, o advogado chefe da defesa. Os monólogos de cada um durante o julgamento, os embates entre os dois e especialmente suas jornadas individuais são grandes atrativos da narrativa e proporcionam ótimos estudos de personagem. Clark por seu passado conturbado, pelos obstáculos que precisa atravessar pelo simples fato de ser mulher, e Cochran por sua luta pessoal contra o racismo e a polícia de Los Angeles, que pode o cegar em certos momentos, nos levando a discutir se seus atos são justificáveis. 

John Travolta (Robert Shapiro), Sterling K. Brown (Chris Darden) e David Schwimmer (Robert Kardashian) são outros que ganham seu espaço na trama, cada uma a seu modo e função narrativa. Curiosamente, Cuba Gooding Jr. no papel de O.J. Simpson é o que menos vem aos holofotes, não por seu trabalho (que está adequado) mas pela abordagem da série, que evita retratar o ponto de vista do personagem, fazendo com que o espectador vivencie a mesma dúvida do público na ocasião: afinal, Simpson cometeu ou não assassinato? Os fatos dão a entender que sim ou não, mas cabe a você decidir se ficará do lado da acusação ou da defesa, não que isso seja simples de decidir, a história está aí para provar que não é. 

Contando ainda com uma trilha sonora inspirada e que exalta o tom midiático da trama, The People v. O.J. Simpson mostra-se uma série envolvente, inquietante, que te faz querer devorar um episódio atrás do outro e também te faz refletir sobre conceitos importantes. Minha dica é que você assista a série junto com uma ou mais pessoas, ou que procure alguém para conversar a respeito depois. O debate sobre os temas propostos talvez seja o grande trunfo que American Crime Story entrega ao espectador.

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