CRÍTICA | Dunkirk

Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: Tom Hardy, Cillian Murphy, Mark Rylance, Harry Styles, Kenneth Branagh, James D'Arcy, entre outros
Origem: Reino Unido / Holanda / França / EUA
Ano: 2017

A Evacuação de Dunkirk, sob o codinome Operação Dínamo, aconteceu entre maio e junho de 1940. Na cidade francesa, após a Alemanha ter invadido o país, 400 mil soldados ingleses e franceses estavam encurralados pelo exército alemão, expostos às bombas inimigas vindas do céu e tanques em terra. A única forma de salvá-los era pelo mar. Winston Churchill, primeiro-ministro há 16 dias, acreditava que seria possível evacuar apenas 45 mil desses homens. O destino deles era Dover, uma cidade inglesa que ficava a apenas 40 quilômetros de Dunkirk através de um canal, mas cujo percurso era praticamente uma armadilha.

Dunkirk conta, então, a história dessa evacuação, escolhendo dividi-la em três narrativas: terra, céu e mar. Em terra, soldados desolados e assustados caminham pela cidade deserta até a praia, onde mais soldados aguardam em filas para embarcar em algum navio que os tire de lá. No céu, uma formação de caças britânicos se prepara para atacar os inimigos antes que bombas caiam sobre os navios e soldados. No mar, um pequeno barco é comandado por alguns civis, escalados para ajudar na evacuação pelo governo britânico, uma vez que apenas seus navios não eram suficientes.

Desde o primeiro momento do filme, é possível sentir a tensão que vai nos acompanhar durante toda a trajetória. Ela se constrói gradativamente, conforme cada narrativa é apresentada, de uma forma muito cuidadosamente costurada, e Christopher Nolan (Interestelar) mostra aqui, mais uma vez, porque é um cineasta tão aclamado, neste que é provavelmente o melhor filme de sua carreira.

Foto: Warner Bros Pictures

Todos os elementos usados por ele culminam em uma experiência de imersão absurdamente competente, começando pelo uso de uma câmera que começa pausada, lenta, como que nos permitindo respirar fundo e criar fôlego para o que veremos em seguida, com planos aéreos que nos apresentam a escala da evacuação contrapostos a outros mais fechados para nos apresentar os personagens que vamos acompanhar.

Combinado a ela, o impecável design de som torna-se quase o condutor principal do filme, uma vez que Nolan escolhe fazer seus personagens todos homens de poucas falas, silenciosos, e a maior parte do que ouvimos começa com um tic-tac de uma bomba prestes a explodir, que poderia soar como muito óbvio no contexto em que está inserido, mas que nas mãos do compositor Hans Zimmer (A Origem) conduz a urgência que o espectador precisa sentir. Zimmer usa esse som como base para crescer todos os outros, construindo assim sons quase imperceptíveis, que talvez passem despercebidos aos ouvidos mais desatentos, mas cuja impressão é efetiva, e outros que preenchem a história por completo, ensurdecedores e grandiosos. Em um determinado momento, uma das variações da composição “Enigma Variations”, de um dos compositores mais importantes da Inglaterra, Edward Elgar, é usada com um primor e um crescente tão bonito, que é impossível não se envolver com o que se desenrola em frente aos nossos olhos, é impossível não sentir.

O que faz de Dunkirk um filme único é ainda a forma como consegue contar uma história de guerra fugindo do padrão de um longa do gênero. Não há sangue, não há discursos inflamados, mas há sentimentos dos quais conseguimos nos aproximar e que nos causam impacto. Todos os seus personagens são construídos em atuações brilhantes de um elenco muito bem formado, os jovens soldados Tommy, Gibson e Alex (Fionn Whitehead, Aneurin Barnard e Harry Styles, respectivamente) são homens cansados pela guerra e dela também, porém jovens demais, e que continuam buscando formas de voltar para casa. O peso dessas tentativas é muito claro em cada um deles.

Foto: Warner Bros Pictures

O piloto Farrier (Tom Hardy) precisa tomar decisões muito rápido e, embora vejamos na maior parte do tempo apenas seus olhos, Hardy passa toda a emoção que precisamos sentir com pouquíssimo esforço, assim como o Comandante Bolton (Kenneth Branagh), que faz a figura conhecida do oficial que não deixa seu posto e protagoniza um dos momentos mais bonitos do filme. Finalmente, Mark Rylance (Ponte dos Espiões) traz para a história os personagens que teoricamente não pertencem a este combate, conduzindo seu barco com dois jovens para ajudar nos resgates. Civis que se viram no meio da guerra por motivos maiores que eles e que contrastam tão bem com o soldado vivido por Cillian Murphy que os acompanha, aterrorizado pela guerra.

Na junção de todos esses elementos, trata-se de uma história sobre sobrevivência, pura e simplesmente. Do ponto de vista histórico e militar, não deveria ser sentida como uma vitória, porque, como é estudado, foi resultado de um erro e significou na verdade uma regressão da Inglaterra na guerra e a tomada da França pela Alemanha. Mas quando voltamos o olhar para os homens que sobreviveram e de como foram ajudados, é possível enxergar a vitória e o triunfo de vidas que não foram perdidas.

Dunkirk é exatamente o filme de guerra que poderíamos esperar de Christopher Nolan, e também algo completamente novo. A imersão que provoca é uma prova muito eficaz tanto do poder que o cinema tem sobre seu espectador, como a capacidade que possui de inovar até mesmo o mais consolidado e clássico de seus gêneros. Basta uma boa história nas mãos de quem sabe contá-la bem.

Excelente

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