CRÍTICA | 150 Miligramas

Direção: Emmanuelle Bercot
Roteiro: Emmanuelle Bercot e Séverine Bosschem
Elenco: Sidse Babett Knudsen, Benoit Magimel, Charlotte Laemmel, entre outros
Origem: França
Ano: 2016


Uma grande cruzada, baseada em fatos, de uma médica especialista contra uma poderosa indústria farmacêutica da França. Um dos casos que mais gerou impacto em território francês e que culminou numa incessante luta por justiça.

150 Miligramas (La Fille de Brest), longa dirigido por Emmanuelle Bercot (De Cabeça Erguida), acompanha Irene Franchon (Sisde Babett Knudsen), médica pneumologista que descobre em 2007 que dezenas de pacientes em um hospital de Brest, noroeste da França, haviam sido acometidos por sérios problemas cardíacos após o uso de Mediator, um remédio para tratar diabetes e que também servia como inibidor de apetite. A profissional foi posteriormente surpreendida com a morte de alguns doentes e passou a associar os óbitos ao uso do medicamento. A partir daí ela começa uma longa investigação sobre a quantidade de mortes e uma longa batalha contra o Ministério da Saúde e o laboratório Servier.

A trama apresenta personagens complexos, um enredo marcado pela tensão da protagonista e o frenesi da mídia após saber do caso. Uma narrativa equilibrada, sem deixar a história parada e sem reviravoltas. Os planos fechados em boa parte das cenas e as cores frias presentes na fotografia já nos dão a mostra do que vai ser o filme, muito tenso, sombrio e sujeito a sobressaltos, sem falar nas intrigas entre os personagens e os conflitos de ideias entre eles.

Crédito: Califórnia Filmes

Existe um grande contraponto entre as atitudes de Irene e o professor Antoine Le Bihan (Benoît Magimel). Enquanto a primeira é mais incisiva e elétrica, o segundo é mais contido e pés no chão. Mas esse comportamento do professor, apesar de díspare, contribui para uma enorme mudança de humor e de atitude de Irene, que começou de maneira morna e passou a ser de uma verdadeira guerreira.

Outro elemento que chama a atenção é a apresentação de algumas cenas da protagonista no mar e em momentos chave da história. Foi uma ilustração de maneira metafórica da incessante luta da médica contra o laboratório Servier. Ela teve que nadar fortemente contra a maré, digamos assim, num confronto contra vários peixes grandes na vida real. Um elemento interessante a ser empregado, uma vez que a personagem, de fato passou por tudo isso, indo contra órgãos importantes, mesmo que  isso significasse um perigo para seu status e sua trajetória profissional.

O filme trata de uma importante questão social, o dever do Estado em zelar pela saúde pública, além de ilustrar uma profissional preocupada com a saúde e bem estar de seus pacientes. Mesmo em condições de desigualdade, Irene não pensou duas vezes em entrar na causa e teve de entrar em rota de colisão com pessoas poderosas e enfrentar todo o tipo de perigo e ameaça. Posso concluir que foi uma história de coragem e ao mesmo tempo de protesto, com uma profissional que utilizou de todos os meios possíveis para ser ouvida e de todos os métodos e provas para ilustrar o quanto o sistema de saúde da França era falho e cheio de vícios, além de frisar que era necessário eliminar várias dessas máculas para se preservar um bem comum.

Uma lição que serve de exemplo para nossos profissionais de saúde e os políticos de nosso país, num Brasil cada vez mais dividido e em meio a tantos males.

Ótimo

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