5 Filmes Relacionados à Psicologia


Os cinéfilos lendo isto provavelmente concordarão que, quando entramos na sala de cinema (principalmente quando o fazemos sozinhos), não estamos só indo ver um filme. A sala escura, o ato de se acomodar na poltrona e se entregar (ainda que apenas por um breve período) à realidade/fantasia exposta na tela.... As impressões, reflexões, o vasto naipe de emoções que em nós aflora, muitas vezes perdurando pelo resto do dia (ou mais) pode ser uma experiência transformadora, não?

Quantos de nós não saíram “diferentes” de uma sessão? Motivados a fazer algo, mudar. Quantas vezes não pareceu que tivemos um entendimento melhor sobre alguém e/ou situações que antes víamos sob outro ângulo? Ou simplesmente rimos um pouco (ou muito) em ocasiões onde isto veio como um eficaz remédio?

Sim, acho que a sala de cinema é um excelente consultório terapêutico. A poltrona pode não ser tão confortável quanto à de uma clínica particular, mas com certeza a Dra. Sétima Arte sabe nos tratar muito bem.

Ensejo à parte, a psicologia da qual devo tratar nesta coluna é a que aparece na tela, entre os personagens de histórias que, particularmente, considero marcantes. De ganhadores do Oscar à produções que passaram quase desapercebidas do público brasileiro, a lista abaixo contém filmes que abordam diferentes aspectos psicológicos (não apenas patologias) em histórias cujos contextos diferem totalmente um do outro. Vamos à eles:


Dr. Munford (Munford, 1999)

Munford, do título,  é não apenas o nome do personagem central, mas também da pequena cidade na qual habita há pouco tempo. Coincidência?

Loren Dean faz o terapeuta que, com seu jeito discreto e simpático, conquista não só pacientes, mas também a confiança da população local. Indignados, os psicólogos concorrentes passam a investigar a vida e o passado de Munford. Em meio à muitas revelações e reviravoltas, o terapeuta terá sua vida transformada ao aceitar tratar a paciente interpretada por Hope Davis. Um filme leve, com personagens interessantes (alguns engraçados) e ritmo bem cadenciado.


Gente Como a Gente (Ordinary People, 1980)

Robert Redford estreou na direção com o pé direito, visto que a película levou 2 Oscars em 1981: Melhor Filme e Melhor Diretor.

Timothy Hutton, em início de carreira, interpreta Conrad, um jovem que se sente culpado pela perda do irmão mais velho em um acidente no qual também estava presente. Após uma tentativa suicida, Conrad inicia um tratamento de terapia com o Dr. Tyrone Berger (Judd Hirsch), num doloroso processo para ele e para toda a família, que apesar dos esforços em manter-se unida, desestrutura-se totalmente conforme as emoções reprimidas de cada um vem à tona.

Redford fez um filme denso. A melancolia e a tensão familiar (apesar da forçada polidez, principalmente por parte da mãe) vazam pela tela. O elenco impecável, com destaque para Hutton ainda bem jovem, e Mary Tyler Moore, que poderia facilmente também ter levado o Oscar daquele ano (que acabou indo para Sissy Spacek), junto à uma fotografia que remete um pouco de Bergman (o filme todo tem um “q” do diretor sueco), são alguns dos elementos que fazem de Gente Como a Gente uma obra-prima.


Jornada da Alma (The Soul Keeper, 2003)

Conta a história de Sabina Spielrein (Emilia Fox), uma jovem russa de 19 anos acometida de surtos de histeria. Encaminhada à um hospital psiquiátrico em Zurique, ela vem a se tratar com Carl Jung (Iain Glen), o então jovem discípulo de Freud, que, dentre outras inovações, recusa em seus tratamentos o uso de correntes e eletrochoques, priorizando o diálogo e a análise de sonhos.

A história é narrada do ponto de vista de dois pesquisadores que buscam a reconstrução da trajetória de Sabine, assim como da relação pai-filho/mestre-discípulo entre Freud/Jung. Para isso, diretor contou com acesso à um diário de Sabine, assim como às cartas trocadas por Freud e Jung.

O filme aborda também a possível história de amor entre paciente/médico, e a trajetória de Sabine depois de seu tratamento, vindo a ser mais uma percussora da psicanálise nos anos seguintes. 


Geração Prozac (Prozac Nation, 2001)

Adaptação do livro homônimo de Elizabeth Wurtzel, onde a autora relata sua experiência com a depressão nervosa.

Lizzie (Christina Ricci) é uma jovem iniciando sua vida acadêmica em Harvard, onde chega para estudar jornalismo. Tudo parece estar indo bem, até ela perceber que está desprovida de forças. Emocional e fisicamente exaurida, ela busca ajuda na terapia e no uso de antidepressivos. Ainda assim, se envolve com drogas e álcool, o que vem a piorar suas relações com as pessoas mais próximas, o que já estava ruim.

A narrativa em primeira pessoa ajuda o expectador a entender os dramas e dores de quem sofre com esta doença tão subestimada e mal compreendida. Talvez a única falha aqui seja de que o filme pode passar ao observador menos atento a impressão de que todos que sofrem de depressão possuem um comportamento anti-destrutivo, o que não é fato. Ainda assim, um ótimo filme, que retrata com realismo um tema ainda tão cheio de tabus. 


Confidências Muito Íntimas (Confidences Trop Intimes, 2004)

Dos cinco filmes aqui citados, este é o único onde não há um tratado direto sobre psicologia, mas achei válido incluí-lo como contrapeso. Para vê-lo sob um aspecto clínico, a premissa seria o que faríamos se, acidentalmente, tivéssemos acesso aos segredos íntimos de uma paciente.

Anna (Sandrine Bonnaire) é uma mulher com um casamento em crise que decide procurar um terapeuta para tratar a questão. Por engano, ela erra de sala e adentra o escritório do advogado William Faber (Fabrice Luchini). Num misto de surpresa, entusiasmo, e barrado por sua timidez, William não consegue interromper a mulher para lhe contar a verdade. A forma como ambos vão se abrindo um com o outro, gerando uma espécie de pacto de confiança, é desenrolada de forma surpreendente, às vezes engraçada, às vezes com certo suspense. Um filme charmoso, com o requinte típico do cinema francês.

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Rodrigo Alves é músico, produtor musical, estudante de psicologia e (agora) colaborador neste site. Links para suas redes sociais: rodrigoalves.com

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