CRÍTICA | The Square: A Arte da Discórdia

Direção: Ruben Östlund
Roteiro: Ruben Östlund
Elenco: Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West, Terry Notary, entre outros
Origem: Suécia / Alemanha / França / Dinamarca
Ano: 2017


A arte proporciona ao observador diversas possibilidades. A imagem ou o objeto retratado pode ter mais de um significado, bem como a capacidade de traçar um panorama positivo ou negativo ou até mesmo uma visão crítica da sociedade contemporânea, muitas vezes reticente e intolerante às manifestações artísticas. The Square: A Arte da Discórdia, do cineasta sueco Ruben Östlund (Força Maior), traz importantes valores ao público, bem como reporta a ele até onde vão, ou deveriam ir, os limites da liberdade de expressão, cada vez mais questionados e censurados.

O personagem central da trama é Christian (Claes Bang), curador de um imponente museu de arte moderna e que prepara uma nova exposição, The Square, cujo tema central é a confiabilidade no próximo, premissa importante para a conversão do local em um ambiente sagrado e sinônimo de estabilidade e igualdade de direitos. Além disso, Christian quer trazer ao público um evento que tenha ousadia, que provoque desafios e venha a ter bastante popularidade. Contará para isso com especialistas em criar vídeos que se tornem virais na internet e artistas com performances ousadas, para não dizer insanas. No entanto, o curador se verá em meio a uma série de conflitos após ter seus pertences furtados e se envolver com a polêmica divulgação de um vídeo promocional do museu, um viral que se torna um escândalo e que poe em risco a credibilidade do local e de seus organizadores.

Foto: Pandora Filmes

O roteiro apresenta uma série de fragmentos e traz diversos panoramas, como a capacidade do público em interpretar os valores transmitidos pelas obras, a definição de arte contemporânea, seus limites, bem como a fragilidade e falência das relações humanas. Na medida em que o filme se desenrola, o espectador passa a ter questionamentos em mente e reflete sobre a importância de se existir um diálogo entre a arte e o público, o museu e o frequentador, além de procurar saber o que é ético e moral em uma manifestação que preza, ou deveria prezar, pela cultura e busca do conhecimento.

Tratam-se de ótimo exercícios propostos ao público em seus 139 minutos de projeção, mas que poderiam ocorrer em um ritmo e tempo menores, sem tanta exaustão. Penso que algumas cenas poderiam ter ficado na ilha de edição, tendo em vista o ridículo que é retratado em algumas ocasiões e o constrangimento causado com certas bizarrices. Algumas sequências são prejudicadas e divagações presentes no enredo poderiam ter sido evitadas.

A fotografia, por outro lado, é substancial, pois não se preocupa apenas em retratar a beleza dos objetos expostos e seus significados, mas em despertar a curiosidade e aflorar os sentimentos do público, algo que fica cada vez mais exaltado e evidente em uma cena que ilustra um jantar entre ricos doadores do museu que são surpreendidos com uma exposição de um artista corporal que vai até a últimas consequências. A proposta de mostrar a intolerância e de criticar o posicionamento da sociedade europeia para com as manifestações artísticas é atingida de forma satisfatória, além de mostrar que o desequilíbrio pode existir dos dois lados: do público, que pode não ser aberto ao que é exposto; e dos expositores, com performances extravagantes e que ferem a moral e a dignidade humana.

Foto: Pandora Filmes

Pulsante, didático e ousado, The Square nos mostra que não basta apenas ilustrar o que é importante ser visto, como também deve existir uma estabilidade entre artista e público. A arte não é só aquela que seduz e provoca repulsa, mas que também se mostra capaz de tocar no consciente e frisar o papel que cada um tem no seio social, e isso o longa de Ruben Östlund alcança com louvor.

A obra vem forte para a temporada de premiações, especialmente após ter vencido a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Não é apenas um filme que reflete os ideais europeus, ele também se encaixa na atual realidade brasileira, envolta a escândalos, corrupção e intolerância.

Ótimo

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