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Postado por
Rafael da Fonte de Hires
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Não é de hoje que o público LGBT+ sofre com constantes ataques dos mais diversos tipos de grupos da sociedade. O caso mais recente foi o da série Super Drags, a primeira animação brasileira sob o selo de originalidade da Netflix. Seu lançamento despertou a antipatia de muitos grupos conservadores, que entendem que desenho animado é obrigatoriamente voltado para o público infantil, e que crianças não deveriam ter acesso a esse tipo de conteúdo.
Nem preciso explicar aqui que existem animações cujo foco é o público adulto. E se voltarmos no tempo, Os Flintstones já foram garotos-propaganda de cigarro, a Disney já fez propaganda armamentista e, em um exemplo mais recente, tivemos o animado Festa da Salsicha (Sausage Party, 2016), que sofreu com o mesmo tipo de críticas, mesmo evidenciando em toda sua divulgação o teor "ousado" de sua produção. Super Drags deixa claro sua classificação indicativa para maiores de 16 anos, portanto, qualquer reclamação a respeito deve ser repensada.
Dito isso, que tal falarmos da temporada em si?
Três homens gays trabalham num shopping na cidade de Guararanhém, onde será realizado o show da popstar símbolo do universo LGBT+, Goldiva (Pabllo Vittar). Porém, há pessoas que querem cancelar o espetáculo, como Sandoval Pedroso - líder religioso da congregação Templo Octogonal Gozo dos Céus -, Jezebel (Sylvia Salustti) - uma das fiéis fervorosas da congregação - e Lady Elza (Rapha Vélez) - que quer a todo custo ter para si todo o highlight (termo que significa a força vital gay). No entanto, Vedete Champagne (Silvetti Montilla), Patrick (Sergio Cantú), Ralph (Wagner Follare) e Donizete (Fernando Mendonça) vão fazer de tudo para impedi-los.
Foto: Netflix |
A animação traz uma série de referências, sendo a mais óbvia os Power Rangers e todas as demais series de Super Sentai. Os integrantes do grupo se transformam em combatentes com armas especiais, possuem comunicadores, habilidades especiais e, como não poderia deixar de ser, robôs gigantes. Também podemos identificar influências de Três Espiãs Demais, onde vemos o dia-a-dia dos membros da equipe interagindo até que são transportadas pelos meios mais inconvenientes e que desafiam as leis da Física, e, claro, do anime Sailor Moon, principalmente nos momentos de transformação.
Tecnicamente falando a animação é bem fluída. Tudo é muito dinâmico e acontece muito rápido em tela. A equipe do Combo Estúdio, mesmos responsáveis pelo canal de animação do YouTube, O (sur)real Mundo de Any Malu, mostra que não estagnou na fórmula de conteúdo para internet, conseguindo transpor muitos elementos, como lutas ao estilo Dragon Ball.
Com cores vibrantes e chamativas, o visual das personagens parece inspirado não apenas nas drag queens brasileiras, mas também naquelas que aparecem em RuPaul's Drag Race, por exemplo, programa que virou febre mundial.
Uma pergunta válida é: a série é panfletária? Sim e não. Sim, pois a temática é repetida diversas vezes, afinal este é um dos intuitos da produção; e não, já que é envolta em uma roupagem cômica, onde nada fica parecendo uma palestra monótona de horas, que não significarão nada em pouco tempo. Pode-se dizer que a mensagem fica diluída, mas sem diminuir em nada a importância da mesma.
No entanto, nem tudo são flores em Super Drags. Incomoda em certos momentos a necessidade constante da animação de esconder um pênis em algum lugar do quadro, seja nos prédios, nos personagens com membros avantajados balançando a torto e a direita, ou mesmo em fumaças. Inicialmente até soa engraçado e inusitado, porém, com o tempo acaba ficando repetitivo. Outra piada recorrente é o aparato Dild-O, responsável por transmitir a missão, que sempre fica debaixo do longo vestido de Vedete, que repete o bordão "Dild-O, introduza" várias vezes.
As críticas feitas ao conservadorismo são inúmeras. Das igrejas promovendo cura gay, os pais que não aceitam filhos homossexuais, os mesmos gays que não estão dentro dos padrões de beleza da sociedade tendo dificuldades em arranjar parceiros, até mesmo apresentadores de TV sendo abertamente contra o público LGBT+.
No fim, a primeira temporada de Super Drags acaba sendo uma grata surpresa em termos de produções brasileiras no serviço de streaming mais famoso do mundo. É interessante ver como o país consegue produzir conteúdo de tamanha qualidade. Agora fica a expectativa par ao próximo ano, já que o gancho foi deixado ao fim do último episódio.
Excelente |
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