Segurança em Jogo | 1ª Temporada



Poucas séries furam a fila das produções que precisam ser assistidas, e Segurança em Jogo (Bodyguard) definitivamente é uma delas. Trata-se de uma narrativa que reinventa o gênero? Não, pelo contrário. Há uma série de clichês e reviravoltas antecipadas pelo público, mas isso não é suficiente para diminuir o valor de uma trama conduzida com inteligência e competência.

A produção da BBC, distribuída no Brasil pela Netflix, é um grande aglomerado de referências aos filmes e séries de ação, política e conspiração, que assistimos nos últimos anos. Criada por Jed Mercurio (Bodies), a série narra a vida do veterano do exército britânico, David Budd (Richard Madden), que é designado para ser o guarda-costas da secretária do Ministério de Administração Interna do Reino Unido, Julia Montague (Keeley Hawes), que, por ser politicamente controversa, é alvo constante de atentados.

Ainda que paute sua premissa na ação e tensão constante, o roteiro não se apressa em resolver ou entregar todas as peças do tabuleiro em um primeiro momento. Não há vergonha em, muitas vezes, optar por um caminho, de certa forma, mais lento, mas que abre espaço para o desenvolvimento de personagens e níveis de arcos dramáticos, algo sempre bem-vindo.

Foto: Sophie Mutevelian / World Productions / Netflix

Ao permitir esse respiro ao espectador, é possível abordar temas como o trauma pós-guerra do protagonista, seus problemas familiares, suas crises de identidade e como tudo isso pode estar enraizado em suas ações diárias. Um dos grandes méritos de Segurança em Jogo é retratar que o sargento Budd não é um super-herói ou um agente secreto estilo James Bond. Pelo contrário. Trata-se de uma figura relacionável a qualquer um de nós, cheio de falhas, mas que, ainda assim, é capaz de salvar alguém ao fim do dia.

Richard Madden (Cinderela) entrega aqui uma atuação marcante, mostrando que evolui bastante como ator desde seu trabalho como Robb Stark em Game of Thrones. Ao lado da Sophie Rundle (Peaky Blinders), que interpreta sua ex-esposa Vicky, e a dupla de policiais vivida por Ash Tandon (Monochrome) e Nina Toussaint-White (Uncle), o elenco é, definitivamente, um dos pontos altos da série.

E mesmo que permeie quase sempre o cenário político britânico, felizmente, em nenhum momento, a produção cai para o lado "chapa branca". Não chega a ser uma crítica constante ao governo, como é visto em House of Cards, por exemplo, mas, ainda assim, nunca se vê a obrigatoriedade de pintar heróis engravatados.

Foto: Sophie Mutevelian / World Productions / Netflix

Segurança em Jogo pode beber de várias fontes comuns, mas acerta em quase tudo o que se propõe, deixando claro que uma história nunca foi contada vezes demais se houver um elenco bom o suficiente para conduzir a proposta em tela. Felizmente, este é o caso.

Ótimo



Eduardo Fernandes é jornalista e já tem a BBC no coração desde Sherlock, uma das melhores séries de todos os tempos.

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