CRÍTICA | Cabo do Medo

Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Wesley Strick
Elenco: Robert De Niro, Nick Nolte, Jessica Lange, Juliette Lewis, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1991


Segundo o 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 180 mulheres são estupradas por dia no Brasil. Tendo em mente esse dado assustador, analisar a trama de Cabo do Medo (Cape Fear) se torna impactante, já que o longa de Martin Scorsese (Os Bons Companheiros), lançado em 1991, aborda a temática da violência sexual ao longo de toda sua narrativa, bem como os conflitos entre ética e moral e a investigação de uma mente assassina.

A história foi contada pela primeira vez através do livro homônimo de John D. MacDonald, em meados dos anos 1950. Desde então, as maldades do antagonista Max Cady e a sua relação com a família Bowden saíram das páginas e foram adaptadas para as telonas em duas oportunidades: a primeira em 1962 e esta de Scorsese.

A trama inicia com a libertação de Max Cady (Robert De Niro) da prisão – o homem cumpriu pena de 14 anos devido ao estupro e assassinato de uma jovem. Alimentado pelo ódio e por um desejo doentio de vingança, ele decide perseguir a família do advogado Sam Bowden (Nick Nolte), que atuou como o seu defensor público no julgamento. Tudo isso porque o ex-presidiário acredita que Bowden não cumpriu o papel que lhe fora incumbido, permitindo assim a sua condenação.

Foto: Universal Pictures

É aqui que a trama se complica, já que Bowden realmente pouco fez para evitar que Cady fosse parar atrás das grades. Na verdade, conhecendo o funcionamento do sistema judiciário, o advogado escolheu omitir um relatório que poderia diminuir a pena do criminoso. Em uma das cenas no clímax do longa, os dois homens se confrontam e a verdade emerge:

Cady:
"Só descobri isso, por acaso, quando comecei a estudar o meu caso... seis anos depois da minha sentença. Lá estava no arquivo do tribunal. Mas, em 1977, você o enterrou. Você gostaria de contar o por quê?"
Bowden:
"Porque eu sei que você a estuprou brutalmente e a espancou. Só porque ela era promíscua, isso não lhe dá o direito de estuprá-la. Você já havia se gabado por outros dois casos de estupro. Você era uma ameaça!"
Nesse ponto, o roteiro de Wesley Strick (Lobo) acerta ao abordar uma temática tão séria, mostrando que a atitude do advogado é questionável, porém, agiu seguindo o conhecimento que possuía sobre o sistema de justiça – e pensando na própria filha adolescente. Ele sabia que havia um grande risco de Cady se livrar da pena. Em outro momento, a narrativa explora mais uma vez isso, quando Cady, para atingir Bowden, estupra a jovem secretária do advogado. Ele sabe que por medo e vergonha, ela não irá prestar queixa.

Foto: Universal Pictures

Quando o assunto é atuação, Cabo do Medo conta com um time de peso, com destaque para o trabalho de Robert De Niro (Touro Indomável), que encarna com excelência o psicótico assassino. Já Juliette Lewis (Um Drink no Inferno), em seu primeiro papel de destaque no cinema, recebeu uma merecida indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. Aliás, a relação entre os personagens de Lewis e De Niro é um dos elementos mais interessantes da trama, além de ser responsável por dar o tom de suspense e paranoia que a cerca.

Esse clima perturbador também é alimentado pela trilha sonora originada do trabalho de Bernard Herrman (Taxi Driver), famoso por compor os temas das obras Alfred Hitchcock (Um Corpo Que Cai). Aliás, essa não é a única referência ao legado do diretor, já que Frenesi (1972) e Psicose (1960) têm suas deixas ao longo do filme.

Por fim, a escolha por movimentos rápidos de câmera e o estilo de montagem das cenas de maior clímax de Cabo do Medo contribuem para esta que é uma obra de roteiro aparentemente simples, mas que certamente merece destaque na filmografia de Martin Scorsese.

Ótimo

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