CRÍTICA | Harriet

Direção: Kasi Lemmons
Roteiro: Kasi Lemmons e Gregory Allen Howard
Elenco: Cynthia Erivo, Janelle Monáe, Leslie Odom Jr., Joe Alwyn, Clarke Peters, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2019


Araminta Ross nasceu escrava em 1822, em Maryland, EUA. Quando adulta fugiu da fazenda de seus donos e escolheu um novo nome para si, Harriet Tubman, uma mulher livre. Se tornou uma abolicionista e ativista de uma rede anti-escravatura, chegando a realizar 13 missões de resgate. Nas incursões resgatou cerca de 70 pessoas escravas, entre elas, amigos e familiares. Se não bastasse, serviu como espiã e batedora no exército da União durante a Guerra Civil Americana.

Com um currículo desses é de se espantar que a indústria cinematográfica ainda não tivesse adaptado sua história para a grande tela. Os motivos todos sabemos quais são, mas felizmente os tempos mudaram e trajetórias como a de Tubman começam a ganhar os holofotes. Assim nasceu Harriet (2019), longa-metragem dirigido por Kasi Lemmons (Fale Comigo) e estrelado por Cynthia Erivo (As Viúvas).

O grande trunfo da obra é justamente sua relevância histórica, já que é gratificante tomar conhecimento de uma protagonista tão marcante. Somado a isso temos um design de produção competente, que sabe utilizar das locações para ambientar o espectador no sul dos Estados Unidos dos anos 1800. O orçamento reduzido acaba sendo notado no escopo geral, já que a produção passa a sensação de telefilme, o que não diminui o resultado final.

Foto: Divugação

O roteiro de Gregory Allen Howard (Duelo de Titãs) e da própria cineasta não é particularmente marcante. Trata-se de uma cinebiografia tradicional, que foca em contar os feitos da protagonista de forma linear, trazendo momentos de catarse aqui e ali, mas sem apresentar diálogos ou monólogos que mereçam grande destaque. Pode até ser classificado como clichê, em certos momentos, mas nunca ineficiente.

Cynthia Erivo vive Harriet com intensidade. Vulnerável a principio, a personagem ganha força na medida em que se torna uma mulher livre e passa a brigar pelo que acredita. Todo o seu passado e emoções são transmitidos no expressivo olhar da atriz, que acaba conferindo a profundidade que Harriet merecia, mas que o roteiro em si não conseguiu proporcionar. Isso explica o reconhecimento que recebeu da Academia, ao ser indicada ao Oscar de melhor atriz.

Sobre o elenco coadjuvante, esperava um destaque maior para os personagens de Janelle Monáe (Estrelas Além do Tempo) e Leslie Odom Jr. (Assassinato no Expresso do Oriente), que viveram Marie Buchanon e William Still. A primeira uma personagem fictícia, mas com papel fundamental na narrativa, por representar uma mulher negra que nasceu livre e gerencia um empreendimento que ajuda aquela organização anti-escravagista retratada. O segundo, um abolicionista histórico e que merecisa maior desenvolvimento em tela, por ter ajudado Harriet no momento em que mais precisou, tornando-se uma espécie de mentor para a mesma.

Foto: Divulgação

No fim, Harriet é uma produção necessária, competente, que esbarra em algumas limitações de seus realizadores, mas que encontra brilho no trabalho de sua protagonista, que leva a mensagem adiante e comove o público. Nos resta esperar por mais obras assim, que nos apresente a figuras históricas importantes e que ficaram as sombras da industria cinematográfica por tanto tempo.

Bom

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