CRÍTICA | Indústria Americana

Direção: Steven Bognar e Julia Reichert
Elenco: Junming 'Jimmy' Wang, Robert Allen, Sherrod Brown, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2019


EUA e China não poderiam estar mais distantes, tanto geograficamente quanto culturalmente. As duas potências simbolizam bem as peculiaridades dos extremos - ocidente e oriente - do planeta. Mas será possível unir dois povos tão diferentes em prol do mesmo objetivo? Esse foi o desejo da empresa chinesa Fuyao ao montar uma fábrica em solo norte-americano. Se tal façanha deu certo ou não, é o que acompanhamos no documentário Indústria Americana (American Factory), produção  distribuída pela Netflix e apadrinhada por Michelle e Barack Obama, já que trata-se do primeiro filme da produtora Higher Ground, fundada pelo casal.

Dirigido pelos veteranos Julia Reichert (Making Morning Star) e Steven Bognar (Lifecasters), o filme retrata a instalação de uma fábrica de vidro da Fuyao na periferia de Ohio, bem como o processo de adaptação de todo o corpo de operários formado por chineses e norte-americanos. O ponto central da narrativa é justamente o contraste existente entre as duas culturas. A princípio, a comunidade local acolhe bem a nova oportunidade de emprego representada pelos chineses e os próprios empresários da Fuyao fazem questão de passar uma imagem de “novos salvadores da economia norte-americana”. Em público, as palavras de ordem são unidade e eficiência, já que os executivos buscam integrar o mais rápido possível os costumes e as práticas de trabalho de seus empregados. Não é difícil imaginar, porém, que todo o processo seria muito mais desafiador do que isso.

Como é apresentado no documentário, o objetivo da empresa é atingir os mesmos níveis de produção e lucro que suas primas chinesas, estando para isso disposta a passar por cima de procedimentos de segurança e proteção dos trabalhadores. Isso pode parecer normal para os chineses – motivados por um senso coletivo de missão alimentado pelo nacionalismo – mas para os estadunidenses a história é bem diferente.

Foto: Aubrey Keith/Netflix

O que é trabalho?

Essa questão é o cerne de todas as discussões presentes em Indústria Americana. O que pode parecer uma indagação simples ou banal se mostra bastante complexa, já que fica claro que norte-americanos e chineses tem ideias fundamentalmente diferentes sobre o trabalho. Em um momento do filme, acompanhamos um grupo de supervisores estadunidenses que viajam até a sede da Fuyao, na China. Durante a visita, fica claro que existem diferenças fundamentais entre os dois países: enquanto os orientais trabalham em uniformidade quase robótica e só tem dois dias de folga por mês, os ocidentais trabalham oito horas por dia, tem os fins de semana livres e querem criar um sindicato. Essa rotina e o desejo de sindicalização fazem com que os operários ianques sejam taxados de “preguiçosos” e “hostis em relação aos chineses” pelo presidente da companhia. 

O documentário retrata bem as tensões dentro da fábrica, expondo todos os lados da problemática, mas também busca humanizar os envolvidos. Há momentos em que os trabalhadores das duas nações tentam se conhecer melhor, além disso, também conhecemos suas histórias, especialmente a dos operários chineses, que deixaram suas famílias na China para se mudarem para Dayton.

Indústria Americana é uma boa opção para quem quer entender melhor a respeito da problemática economia norte-americana, bem como sobre os desafios que culturas diferentes devem enfrentar quando colocadas lado a lado. Vale citar que um vídeo de 10 minutos em que o casal Obama conversa com os diretores do documentário também está disponível na Netflix e um bom complemento para o documentário.

Foto: Netflix


Bom

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