CRÍTICA | Tudo Sobre Minha Mãe

Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Cecilia Roth, Penélope Cruz, Antonia San Juan, entre outros
Origem: Espanha / França
Ano: 1999

Sensível, mas desconexo por muitas vezes, assim como a própria vida, Pedro Almodóvar (Carne Trêmula) retrata em Tudo Sobre Minha Mãe (Todo Sobre Mi Madre) a verdade nua e crua do que é viver. Uma premissa primorosa, mas que se perde em especial por atuações exacerbadas.

Muito do valor vem da iniciativa de contar a história através de não apenas uma (como poderia vir da ideia do título), mas de muitas mulheres diferentes. Há quem busca a aceitação de não ter nascido mulher, mas escolheu o ser, ou ainda quem luta diariamente para absorver o luto do seu maior amor. Muitas são as tramas e é a interação entre cada uma delas que resulta nos melhores momentos do filme.

Evidentemente toda obra tem um fio condutor. Aqui temos a figura de Manuela (Cecilia Roth), que tem uma relação - no mínimo - conturbada com seu filho Esteban (Eloy Azorín), o que resulta em algumas cenas um tanto quanto incômodas (quase no sentido Édipo da situação). Depois de perdê-lo por uma fatalidade, ela decide fechar as pontas soltas de sua vida com o pai da criança, o qual sempre escondeu de todos.

Tal qual a protagonista ao mudar de cidade, não somente a sua visão, como todo o escopo do longa ganha maiores ares e níveis de profundidade. Almodóvar utiliza de suas mulheres para permear diversos temas importantes como a AIDS, abuso sexual, prostituição, maternidade e luto. Tais discussões nunca soam gratuitas, porém, algumas vezes, acabam não tão bem desenvolvidas como poderiam. É o caso da doação de órgãos, que é massivamente abordada nos primeiros minutos do filme, mas nunca retorna para o restante.

El Deseo

Apesar das inconstâncias no roteiro, é na pele de Huma Rojo (Marisa Paredes) e Agrado (Antonia San Juan) que mora o verdadeiro coração de Tudo Sobre Minha Mãe. A primeira é a atriz, ídola do falecido filho de Manuela; já a segunda, uma antiga amiga travesti. Ambas entregam atuações impecáveis e carregam, junto de Roth, boa parte da trama. Há de se destacar também a irmã Rosa, vivida pela ainda tímida Penélope Cruz (Abraços Partidos).

Não resta dúvidas que há muito do que se tirar de bom da proposta madura do cineasta. Toda a discussão sobre o cenário das travestis, seja na figura de Agrado, como na própria, curta e certeira, presença da Lola (Toni Cantó), quanto no preconceito pulsante contra a AIDS, escancarado em tantos personagens, são exemplos muito claros disso. Fica a sensação, porém, de muitas situações apressadas. Como, por exemplo, todo o desenvolvimento a cerca da aproximação da Manuela com Huma. Desde a “invasão” ao camarim até a escalação ao espetáculo, esse o pior de todos. Tudo acontece sem maiores explicações. Como também acontece no fechamento do arco de Rosa, que vem a cavalo, atropela e vai embora sem se despedir.

Vale destacar que a gangorra de emoções também é sentida nas atuações, pois muitas vezes as peças de teatro encenadas dentro do filme eram mais críveis que os atores da produção.

Entre altos e baixos, é inegável o valor de Tudo Sobre Minha Mãe. É uma pena que, do meu ponto de vista, a obra nunca chegue ao ponto que tinha potencial para chegar. Vale pelas muitas discussões propostas e, mais do que isso, dar voz, luz, destaque e tudo que possa ter direito a todo e qualquer tipo de mulher.

Regular



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