CRÍTICA | Minari: Em Busca da Felicidade

Direção: Lee Isaac Chung
Roteiro: Lee Isaac Chung
Elenco: Steven Yeun, Yeri Han, Yuh-Jung Youn, Alan S. Kim, Noel Cho, Will Patton, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2020

Verdadeiro. Não há palavra que defina melhor Minari: Em Busca da Felicidade (Minari). Da realidade nua e crua do famoso sonho americano, à transparência de uma criança ao ser confrontada com novos e desafiadores costumes. Escrito e dirigido por Lee Isaac Chung (Lucky Life), o longa é carregado de sentimento do começo ao fim, ainda que o ritmo escorregue aqui e ali algumas vezes.

Ludibriado pelo desejo de novos ares, Jacob (Steven Yeun) dirige com sua família para um terreno recém comprado. Pela janela, David (Alan S. Kim) olha atentamente todos os detalhes do caminho, enquanto pouco a pouco se afastam da civilização.

Aliás, todo esse começo me fez recordar muito dos primeiros minutos de A Viagem de Chihiro (2001). Inclusive as reações dos dois pequenos são bem similares, da monotonia da viagem à descoberta de um novo local.

Parte da dinâmica que permeia a obra vem da conturbada e crua relação entre Jacob e sua esposa Monica (Yeri Han). Há uma desconexão grande entre os dois, que é sentida logo nas primeiras palavras do casal. Afinal, todo o grande projeto de vida de fazendeiro nunca passou pelo crivo dela, muito menos compartilhava da mesma boa fé ou esperança que os olhos dele tentavam demonstrar.

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E é nessa relação que reside o valor de Minari. São as pessoas e como elas vivem em comunidade. Seja em um relacionamento amoroso, na relação entre avó e neto, dentro de comunidades. Apesar do primeiro cenário muito claro quando se escolhe abordar uma família sul-coreana tentando o sucesso na América, Chung não conversa apenas com os milhares de imigrantes que passaram ou ainda passam por algo semelhante, mas expande o escopo e conecta com todos que se permitem embarcar na história.

Se o valor está nas relações, o coração definitivamente reside em David e Soonja (Youn Yuh-Jung). Primeira atriz sul-coreana a vencer um Oscar, Youn Yuh-Jung (A Empregada) está brilhante no papel da sempre curiosa avó da família. Seja na conturbada interação entre as culturas, seja na segunda parte do filme, onde carece de uma mudança mais radical. Em todas brilha com delicadeza e sinceridade no olhar.

A interação entre os dois, aliás, funciona desde o princípio e o garoto é um deleite para os olhos. Sempre com doses grandes de pureza, as vezes exagerada pela pouca idade. É ele que nos carrega do início ao fim, quase que literalmente, já que a produção começa e termina com ele.

É sempre especial ver como uma criança lida com os medos e inseguranças de uma forma tão sensível. Ao mesmo tempo que ele quer parar de fazer xixi na cama, ele luta diariamente contra uma doença no coração. Em meio a isso, ainda tem que lidar com as discussões, quase que diárias, entre os pais e entender o seu lugar nisso tudo quando sua avó chega da Coréia do Sul.

As vezes de forma infantil, como quando acontece na peça que prega na avó, outras de maneira gentil e verdadeira como quando arremessa aviões de papel pedindo para os pais pararem de brigar.

“Minari é tão bom. Cresce em qualquer lugar, como ervas daninhas. Qualquer um pode encontrar para comer. Rico ou pobre, todos podem ser saudáveis.”

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Tal qual a frase dita pela vó Soonja, a família Yi tenta diariamente ser como a planta que dá nome ao longa. Entre todas as adversidades, ela tenta crescer, prosperar e dar novos frutos. Parte do problema aqui é que essa força de perseverança parece vir de forma exclusiva por Monica. Enquanto faz de tudo pelo filho e bota a família sempre em primeiro lugar, Jacob não cansa de repetir o quanto a fazenda é a sua meta de vida. Meta essa que independe de quem estará ao seu lado.

Ele está tão cego pelo sonho americano que não consegue perceber a felicidade que reside nas pequenas coisas do seu dia a dia. No sorriso da seu filha, no bem estar da sua esposa, ou mesmo na própria saúde do caçula. Tudo fica em segundo plano perante a grande missão da fazenda Yi.

É nessa cegueira que reside meu descontentamento enquanto espectador. Foram inúmeras as vezes em que ele deixa claro que sua prioridade é a fazenda. Passa por cima da esposa, do filho, da sogra, até do “caçador de água”. É a velha (e ridícula) necessidade do homem ter que provar que pode tudo. Apesar de entender que esse comportamento ainda existe, esperava que o desfecho da obra pudesse sair desse cenário melancólico, mas infelizmente isso não ocorre.

Vale ainda destacar as participações pontuais de Will Patton (Duelo de Titãs) como o peculiar (para se dizer o mínimo) Paul. O ator está ótimo como o ajudante de Jacob na fazenda. Toda cena em que ele aparece dá vontade de conhecer mais de seu personagem e tentar entender um pouco de onde vem todas as suas esquisitices.

Minari é um bom retrato do que é viver em comunidade, da busca por reconhecimento e, principalmente, de encontrar o seu lugar no mundo. Tal qual os legumes precisam de solos específicos para que possam crescer de forma adequada, nós também precisamos que o entorno nos seja favorável para que possamos chegar onde almejamos. Talvez ter seu próprio negócio, ou quem sabe se dedicar integralmente aos filhos. Pode ser ainda menor, como, quem sabe, não sonhar mais com banheiros. Não importa o tamanho do sonho, todos podem prosperar, desde que encontrem terra fértil para isso.

“Mesmo se eu falhar, tenho que terminar o que comecei.”

Bom



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