CRÍTICA | Sob a Pele

Direção: Jonathan Glazer
Roteiro: Jonathan Glazer e Walter Campbell
Elenco: Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Lynsey Taylor Mackay, entre outros
Origem: Reino Unido / Suíça
Ano: 2013

Com olhos claros, cabelos negros e sempre usando um batom vermelho nos lábios, Laura (Scarlett Johansson) chama a atenção das pessoas à sua volta. Ela é uma extraterreste de passagem pela Escócia, que utiliza da sedução para atrair homens para sua armadilha e abduzi-los para sua terra natal.

Sob a Pele (Under the Skin) possui toda uma atmosfera de filme cult que é própria das produções da A24. A cinematografia de Daniel Landin (Pássaros Amarelos) estabelece um visual quase amador para o filme. Algo proposital, é claro, como na cena do shopping, em que a luz branca é estourada para representar o contato da alienígena com pessoas comuns.

No momento em que Laura leva as suas presas a um local seguro para poder ataca-las, uma música aguda inicia no volume mais baixo até ficar mais perceptível ao espectador. Essa frequência traz um frenesi singular para a obra, como se também estivéssemos sendo seduzidos por Laura. Um acerto do diretor Jonathan Glazer (Reencarnação), que soube conduzir tais elementos para nos imergir na história que está sendo contada visualmente.

Ao abordar alguma pessoa, a protagonista faz uma série de perguntas, como se tivesse critérios para escolher sua presa. E, assim que finaliza o serviço (absorvendo-as por inteiro e deixando apenas a pele do corpo para trás, como uma carcaça), passa a reproduzir costumes, manias e comportamentos, chegando ao ponto de experimentar comida humana, como na cena do bolo, ainda que seu corpo não seja feito para absorver esse tipo de alimento.

Man Ray / A24

É interessante notar as escolhas visuais que influenciaram o visual de Laura. Em alguns momentos em que a personagem está de perfil, em sua forma humana, é perceptível a referência à foto realizada por Man Ray, em 1929, em que se utilizou o processo de solarização, trazendo um aspecto bizarro à fotógrafa e fotojornalista Lee Miller (imagem acima).

Sua aparência original é distinta, ainda humanoide, mas com cor e textura de pele diferentes de qualquer outra criatura terrestre, algo entre o alienígena e o futurista. Um dos trabalhos mais famosos de Hajime Sorayama, ilustrador famoso no Japão, é uma criatura parecida com um humano de corpo feminino, que parece também ter influenciado o visual de Sob a Pele (imagem abaixo).

Outra referência visual está no álbum "Just Push Play", da Aerosmith, em que vemos a mesma criatura estampando a capa de maneira sensual. No entanto, este não é o único detalhe em comum, já que temos a faixa "Under My Skin", trazendo quase o mesmo nome da produção cinematográfica.

Já no mundo dos games, temos Virtua Fighter, um jogo de luta clássico dos anos 1990, em que Dural é uma personagem de aparência muito similar às características citadas, com um detalhe extra que chama a atenção: ela simula os movimentos dos outros personagens (imagem abaixo). Exatamente como Laura.

Esses e outros aspectos fazem de Sob a Pele um filme singular, mergulhado em referências e que faz jus ao romance original de ficção científica escrito pelo holandês Michel Faber.

Hajime Sorayama / Virtua Fighter / A24


Excelente



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