CRÍTICA | Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna e Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Marisa Tomei, Jon Favreau, entre outros
Origem: EUA / Islândia
Ano: 2021

Como colocar em palavras a experiência cinematográfica que é Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Spider-Man: No Way Home? Desde Vingadores: Ultimato (2019), a Marvel Studios não lança um filme tão grandioso. Ao todo, esse que é um dos super-heróis mais amados da cultura pop, teve oito filmes lançados, além de suas participações em outros filmes do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Mas nunca se teve tanta expectativa e se fez tanto barulho para um projeto solo do personagem como agora.

O longa é novamente dirigido por Jon Watts (A Viatura), que já tinha trabalhado em Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017) e Homem-Aranha: Longe de Casa (2019), mas pela primeira vez na história do herói nos cinemas, a identidade do amigo da vizinhança é revelada, trazendo conflitos entre suas responsabilidades como Homem-Aranha e sua vida particular, já que afeta diretamente aqueles ao seu redor.

Entre perseguições de helicóptero e fake news do Clarim Diário, Peter Parker (Tom Holland) tenta uma solução para seus problemas, na tentativa de voltar a ter uma vida "normal". Ele vai até o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) em busca de ajuda para restaurar seu segredo. Acidentalmente acaba bagunçando tudo, como de costume, e atraindo para o seu universo uma chuva de vilões que já lutaram contra o Homem-Aranha em outros universos. Peter então terá que enfrentar as consequências de suas escolhas, que não só afetarão o seu próprio futuro, mas também o multiverso.

Por mais que parecesse que Stephen Strange assumiria um papel de novo mentor, Parker finalmente assume o protagonismo de sua própria narrativa. Mesmo com escolhas arriscadas, ele luta com Strange para defendê-las. E após dois filmes apoiado-se em outros personagens como Tony Stark (Robert Downey Jr.), ou até mesmo em Mistério (Jake Gyllenhaal) e Nick Fury (Samuel L. Jackson), Peter realmente deixa de lado o “protocolo bicicleta com rodinha” e passa a se impor e amadurecer de verdade.

Sony Pictures / Marvel Studios

Além de ser o melhor projeto solo do Aranha, esse é, sobretudo, um filme sobre amadurecimento, trazendo dilemas à tona dilemas morais do protagonista, e mostrando  o quão corajoso ele é para tomar as decisões mais difíceis e necessárias. Aqui vemos o protagonista enfim aprender o significado da famosa frase que nos marcou desde o primeiro filme de Sam Raimi (Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio):

“Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.”

Apesar dos amigos não o abandonarem, Peter se encontrar mais sozinho do que nunca, pois nesse filme ele toma uma surra não apenas dos vilões, mas também na vida. Uma surra necessária para que ele cresça e encare de frente os sacrifícios mais difíceis que vêm com o traje do Homem-Aranha. Felizmente, Tom Holland (Capitão América: Guerra Civil) não decepcionam, mergulhando no personagem e deixando um pouco de lado o seu já conhecido ar juvenil, indo além do carisma para expressar angústia, culpa e raiva.

Todo o elenco ganha espaço para brilhar aqui. A M.J. de Zendaya (Duna) fica à altura de Holland, trazendo toda a química que faltou nos longas anteriores. Já Jacob Batalon (Deixe a Neve Cair), daquela forma carismática e divertida que amamos, volta a viver Ned, que não é mais apenas o cara da cadeira, mas também descobre promissoras habilidades que os ajudam na história.

Mas os que fazem o longa realmente brilhar são os vilões. É claro que o filme aproveita da nostalgia do público ao resgatar icônicos personagens como o Duende Verde (Willem Dafoe), Doutor Octopus (Alfred Molina), Homem de Areia (Thomas Haden Church), Electro (Jamie Foxx) e Lagarto (Rhys Ifans). Enquanto os três primeiros tomam a frente, os dois últimos ganham menos destaque. Alfred Molina (Frida) é tão natural quanto em Homem-Aranha 2 (2004), com a mesma nuance entre ameaça e arrependimento, já Jamie Foxx (Django Livre) alcança sua redenção ao encarnar uma versão de Electro, bem diferente daquela de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014), menos caricato e azul, usando todo o estilo e charme que possui.

O destaque, porém, vai para o talentosíssimo Willem Dafoe (O Farol), que evidencia a diferença entre um vilão e uma real ameaça. O ator de 66 anos de idade não apenas repetiu o trabalho exemplar de Homem-Aranha (2002), como mostrou-se ainda mais envolvido com seu personagem. Seu Norman Osborne é marcado pelo vilania insana, exagero e crueldade, algo não tão comum de se encontrar no MCU.

Sony Pictures / Marvel Studios

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa parece feito na medida para agradar os fãs. O retorno desses vilões clássicos traz à tona o peso do legado de quase duas décadas de filmes do herói, de forma que qualquer espectador com certeza vai dar pulos de alegria na cadeira do cinema. Mas é na virada para o terceiro ato que ganhamos momentos realmente marcantes, tanto de ação, comédia ou drama. Tudo se encaixa perfeitamente ao final, algo que, com certeza, irá trazer muita adrenalina aos espectadores.

O longa aborda as consequências das decisões erradas, o aprendizado através do sofrimento e o peso do amadurecimento. Fora dos braços de Tony Stark ou dos Vingadores, o garoto do Queens aprende a trilhar sua própria jornada e se torna finalmente o herói altruísta que conquistou fãs com seu carisma, inteligência e falta de dinheiro, porque ele é gente como a gente, afinal. De certa forma, mesmo esse sendo o terceiro filme de Tom Holland como Peter Parker, é como se só agora ele estivesse mesmo se tornando o Homem-Aranha.

Quando a euforia passa, seja na saída do cinema, alguns dias depois ou até depois de assistir novamente, vem a sensação de que Sem Volta Para Casa é o filme mais emblemático de todo o MCU depois de Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Ultimato. E, atendendo a curiosidade dos fãs do herói, pode-se dizer que, sem dúvida alguma, ele não decepciona ao entregar tudo o que os fãs queriam. E fiquem na sala para as duas cenas pós-créditos!

Excelente


Comentários