CRÍTICA | Lincoln

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner
Elenco: Daniel Day-Lewis, Sally Field, Tommy Lee Jones, Joseph Gordon-Levitt, Lee Pace, James Spader, entre outros
Origem: EUA / Índia
Ano: 2012


É bom deixar claro aos desavisados, Lincoln (2012) não se trata da cinebiografia do 16º presidente dos Estados Unidos, pelo contrário, a obra retrata um curto período da vida do mesmo. Precisamente, o período em que lutou bravamente para a aprovação da 13ª Emenda, que viria a abolir a escravatura no país e, consequentemente e infelizmente, levá-lo a ser assassinado. Obviamente a importância do presidente para o que se seguiu é o cerne do filme, mas o fato histórico em si ganha maior importância aos olhos de Steven Spielberg (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal) e do roteirista Tony Kushner (Munique).

Spielberg, diga-se de passagem, me surpreendeu com sua direção. Não estou falando de sua capacidade técnica, essa continua impecável e parece melhorar com os anos, não surpreendendo a ninguém. No entanto, o diretor vinha sendo criticado pelo excesso de sentimentalismo empregado em suas obras recentes - e nisso, concordo em parte - o que levou Cavalo de Guerra (2011) a ser duramente criticado, ao ponto de ser repudiado por alguns.

Aqui, entendo que o mesmo encontrou a ponto certo para contar sua história. Teve patriotismo? Obviamente, mas não em excesso. O filme te faz chorar? É possível, mas pela força de sua história e pela grandiosidade dos personagens que acompanhamos ao longo dos 150 minutos de projeção. Nunca por conta de um sentimentalismo valorizado pela inclusão de uma grande trilha, já que John Willians (Guerra dos Mundos) dessa vez faz um trabalho correto e competentemente discreto.

Foto: DreamWorks

E se o valor desses personagens é inegável para história, o mesmo pode-se dizer do talento dos atores que os interpretaram. Composto por um elenco de apoio de fazer inveja a qualquer obra, Lincoln acerta por depender do sucesso de seus interpretes para o bom andamento de sua trama, que é toda política. Joseph Gordon-Levitt ((500) Dias Com Ela) faz o papel do filho mais velho de Lincoln, que abdica de sua formação acadêmica para servir ao exército durante a Guerra Civil. Sua participação, ainda que pequena, serve para mostrar o lado humano do presidente, que vive o dilema de ver seu filho correr um risco que não precisaria. Sally Field (Forrest Gump: O Contador de Histórias), por sua vez, exerce função semelhante como a primeira-dama. A atriz tem um desempenho digno de seu passado, mostrando-se ainda capaz de emocionar plateias. Já Tommy Lee Jones (Onde Os Fracos Não Têm Vez) surpreende a todos vivendo Thaddeus Stevens, um importante membro da câmara e para o fato histórico em si, rabugentamente carismático.

O que nos leva a Daniel Day-Lewis (Sangue Negro), que aqui não interpreta Abraham Lincoln, ele é Abraham Lincoln. Talvez soe clichê falar, mas o ator nem precisaria da excelente maquiagem e figurino empregados, que os deixam extremamente semelhante ao presidente. A forma calma, pausada e rouca com que pronuncia as palavras, sua postura ao sentar a mesa, ou mesmo a lentidão com que caminha mancando a cada passo. São detalhes que tornam seu desempenho muito acima da média. E que deleite é assistir as cenas em que Lincoln/Day-Lewis conta suas histórias.

E nesse ponto é válido citar a cinematografia de Janusz Kaminski (Prenda-me Se For Capaz), que valoriza o protagonista como a verdadeira lenda que é, mostrando Day-Lewis em vários momentos iluminado pela luz que invade o ambiente pela janela, nos apresentando-o quase como uma figura mítica. 

Foto: DreamWorks

É a soma desses fatores que tornam Lincoln um filme grandioso. Uma obra coesa e apaixonada dirigida por cineasta fascinante e retratada com brilhantismo por seu elenco. E não deixa de ser curioso a semelhança de temática com outra obra do diretor, Amistad (1997), que nem de longe se aproxima da qualidade desta produção. A prova de que grandes cineastas podem ter seus altos e baixos. Para a sorte de todos os cinéfilos, Spielberg costuma ter muito mais altos em sua filmografia.

Ótimo

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