CRÍTICA | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: David Koepp
Elenco: Harrison Ford, Cate Blanchett, Karen Allen, Shia LeBeouf, John Hurt, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2008



Quando Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull) estreou, no já longínquo ano de 2008, tinha o desafio de ao menos igualar o nível de qualidade da trilogia original dirigida por Steven Spielberg (Munique) e produzida por George Lucas (Star Wars: A Vingança dos Sith), já que todos sabíamos que supera-la em qualidade seria uma missão praticamente impossível. Ainda naquele ano era perceptível que o resultado tinha ficado aquém do esperado, mas é triste perceber que o tempo fez mal ao quarto capítulo do velho Indy.

Devo dizer que o principal motivo para o longa envelhecer é o uso de efeitos digitais em demasia, algo que vai contra o conceito original do personagem. Ao analisar o contexto da época, é simples perceber o que aconteceu, já que a Lucasfilm havia acabado de finalizar os episódios I, II e III de Star Wars, onde o mesmo erro foi cometido. O fascínio pela nova tecnologia fez com que seus realizadores esquecessem dos elementos que faziam ambas as franquias especiais, algo que podíamos esperar da parte de Lucas, mas não de Spielberg, que sempre soube mesclar efeitos digitais com efeitos práticos como ninguém. Jurassic Park (1993) está aí para nos provar.

Outro ponto que precisa ser comentado é a idade elevada de Harrison Ford (Blade Runner 2049), que nas gravações estava com aproximadamente 65 anos. Por mais que adoremos o ator e o personagem, fica difícil tornar algumas sequências de ação verossímeis, como aquela da Área 51 que abre o filme, ou mesmo o comboio pela floresta amazônica. Tudo soa um pouco ridículo, especialmente quando o ator está cercado de chroma key por todos os lados. E só de pensar que o ator está cotado para voltar ao personagem, agora com quase 80 anos, tenho calafrios.

Foto: Lucasfilm

Mas nem tudo são agruras, é bem verdade. O roteiro de David Koepp (O Pagamento Final) é hábil em atualizar o personagem para uma nova era, o fim dos anos 1950. Se pensarmos que Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981) se passa em 1936, temos aqui um personagem que atravessou a Segunda Guerra Mundial e foi relevante para o conflito. Os nazistas, inimigos tradicionais do herói, dão lugar aos russos; e a corrida espacial ganha relevância evidente para a trama principal, já que a busca da vez é pelo esqueleto de um alienígena. E se as novidades podem causar certa estranheza a principio, no momento em que colocamos tudo em contexto, os elementos passam a funcionar muito bem.

E ainda que não tenhamos Sean Connery (Indiana Jones e a Última Cruzada) envolvido no projeto - singelamente homenageado em um porta retratos no escritório do Indy - a decisão de trazer Karen Allen (Malcolm X) de volta como Marion é bem-vinda, especialmente quando é inserido o elemento paternal. A dinâmica entre o protagonista e seu filho recém descoberto é divertida, e remete a elementos do terceiro filme da franquia, como na divertidíssima perseguição de moto pelas ruas da cidade. E todas as críticas a Shia LeBeouf (Docinho da América) ao longo dos anos me soam exageradas, já que o ator está bem no papel (ainda que a cena a lá Tarzan na selva amazônica seja absolutamente dispensável).

Se o roteiro não é todo bom, muito se deve a inclusão dos personagens de Ray Winstone (Os Infiltrados) e John Hurt (O Homem Elefante), que acabam "inflando" a trama sem necessidade. A escolha de formigas carnívoras como o "animal peçonhento" da vez também não funciona é bem verdade, mas uma acerto indiscutível é o de Cate Blanchett (Cadê Você, Bernadette?) como a vilã da vez, exageradamente divertida como Irina Spalko.

O desfecho, apesar de fugir do que estamos acostumados na franquia, poderia ser melhor aceito não fosse, novamente, o excessivo uso de efeitos digitais, que transformam a cena final em algo desnecessariamente megalomaníaco.

Foto: Lucasfilm

Entre erros e acertos, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal ainda é um bom filme. É Spielberg, é Ford, é Lucas. Tem uma fotografia belíssima e a sempre correta condução musical de John Williams (Tubarão). A pergunta que fica, no entanto, é se "bom" é um adjetivo digno o bastante para um ícone do cinema como Indiana.

Bom

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