CRÍTICA | Corra!

Direção: Jordan Peele
Roteiro: Jordan Peele
Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Catherine Keener, Bradley Whitford, Lakeith Stanfield, Caleb Landry Jones, entre outros
Origem: EUA / Japão
Ano: 2017



Corra! (Get Out), produzido com apenas 4,5 milhões de dólares, conseguiu um feito raro na temporada de premiações, pois foi indicado ao Oscar de melhor filme, mesmo sendo uma obra do gênero terror. Mais que isso, como o longa-metragem de estreia de Jodan Peele (Cegonhas) na direção, ele que até então era conhecido por seu trabalho como comediante, conseguiu arrecadar 33,3 milhões de dólares, somente no fim de semana de estreia nos EUA.

Filmes do gênero terror e suspense costumeiramente recebem pouca atenção da Academia, especialmente se levarmos em conta longas independentes, como é o caso aqui. A simples indicação da obra para a maior premiação da indústria já é um feito e tanto, provando que trata-se uma produção que merece atenção. A mescla de suspense, crítica social e pitadas de humor fizeram com que Corra! figurasse em muitas listas de melhores do ano de 2017, por exemplo.

A trama gira em torno de um fim de semana no qual o fotógrafo Chris Washington (Daniel Kaluuya), que é negro, vai conhecer a família sulista de sua namorada Rose Armitage (Allison Willians), que é branca. Apesar da moça jurar que seus pais são “liberais”, chegando ao ponto de afirmar que seu pai "votaria em Obama pela terceira vez, se isso fosse permitido”, os medos do protagonista vão se justificando, já que ele passa por situações, no mínimo, desconfortáveis. A insistência da mãe de Rose (Catherine Keener) em realizar sessões de hipnose, bem como o comportamento estranho dos empregados da casa, fazem com que as suspeitas e as tensões de Chris aumentem. 

Universal Pictures

Desde a abertura do longa, quando testemunhamos um homem negro ser sequestrado por um encapuzado do Klux Klux Kan, até os momentos de maior tensão para o protagonista, é possível perceber o forte teor crítico que envolve a narrativa. Contudo, para além de situações estrambólicas de preconceito racial, o que vemos em Corra! é o “racismo nosso de cada dia”. O personagem vivencia acontecimentos que, apesar de causar estranhamento em muitos, ainda fazem parte da vida de grande parcela da população negra. São "piadas" e “elogios” que parecem inofensivos, mas que, na verdade, estão tão enraizados em nossa cultura, que escodem um preconceito velado, ou pior, naturalizado em nós. 

As sequências das sessões de hipnose são, sem dúvida, as cenas mais impactantes do longa. Com a câmera enquadrando apenas o seu rosto, Daniel Kaluuya (Pantera Negra) demonstra o terror crescente de seu personagem, garantindo a merecida indicação ao Oscar de melhor ator. Além disso, os personagens secundários também recebem destaque, seja na figura de LilRel Howery (Insecure) como alívio cômico, ou com Betty Gabriel (12 Horas Para Sobreviver: O Ano da Eleição), que se mostra uma das figuras mais perturbadoras da história. 

Corra! é um terror de qualidade, que não apenas entretém, mas também te leva a refletir e, mais importante, questionar a realidade em que vivemos. E caso você ainda não tenha assistido a obra, aproveite essa oportunidade, pois dificilmente irá se arrepender.

Ótimo

   

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