OSCAR 2018 | A Representatividade Feminina na Premiação


Durante a cerimônia do Globo de Ouro, na entrega do prêmio na categoria melhor direção, a atriz Natalie Portman (Cisne Negro) deu uma alfinetada na falta, ou inexistência, de concorrentes mulheres. Esse tipo de reivindicação vem sendo cada vez mais recorrente e ouvida na indústria, não só por parte das mulheres, mas por representantes de minorias de maneira geral. No caso da representatividade feminina, o discurso ganhou ainda mais força em 2017, após diversas acusações de assédio sexual envolvendo grandes nomes da indústria, como Harvey Weinstein, Louis C.K., Kevin Spacey, entre outros.

Com toda essa discussão vindo à tona, as mulheres de Hollywood estão buscando trazer sua voz ao público, inclusive criando campanhas como a Time’s Up, que tem sido frequentemente divulgada nas premiações e nas redes sociais no último mês. Dessa maneira, os destaques femininos no Oscar 2018 prometem ter uma importância ainda maior, principalmente em categorias onde há uma disputa de ambos os sexos pelo prêmio.

O fato é que as mulheres ainda têm menos oportunidades e passam por situações constrangedoras em sets de filmagem, e sabemos mudanças as vezes acontecem lentamente, porém, esse tempo acabou. A partir de agora inicia uma nova era, em que as mulheres também ganham voz para terem o reconhecimento que merecem. Por isso é tão importante dar visibilidade e aplaudir o trabalho de diretoras, produtoras, roteiristas e outras profissionais do cinema e do audiovisual, para que as meninas de hoje não desistam dos sonhos de amanhã.

Rachel Morrison, diretora de fotografia de Mudbound

No Oscar 2018 veremos, pela primeira vez na história, uma mulher indicada ao prêmio de melhor fotografia, Rachel Morrison, que, por sinal, também assina a cinematografia do elogiado Pantera Negra. Veremos também a primeira mulher negra indicada por melhor roteiro adaptado, Dee Rees (Pariah), que também é diretora. Ambas sendo reconhecidas por seus trabalhos em Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi.

Além disso, em 90 anos de premiação, essa será apenas a quinta vez que uma mulher é indicada na categoria melhor direção. Estamos falando de Greta Gerwig (Frances Ha) e seu trabalho em Lady Bird: A Hora de Voar, filme que também marca a décima terceira vez que um longa-metragem dirigido por uma mulher recebe a indicação a honraria máxima da noite, o prêmio de melhor filme.

Tais conquistas abrem portas e podem fazer com que os estúdios passem a contratar mais mulheres em grandes produções. Vale notar, no entanto, que mulheres negras continuam, em sua maioria, de fora da disputa, sofrendo discriminação dobrada tanto em termos de reconhecimento, como de contratação, como apontou recentemente na entrevista abaixo a atriz Octavia Spencer (Histórias Cruzadas), indicada na categoria de melhor atriz coadjuvante por A Forma da Água. O caminho ainda é longo, mas nós devemos persistir. 



A seguir, citarei mais representantes femininas indicadas na premiação desde ano.

A veterana cineasta Agnès Varda (Os Regenerados), que no final do ano passado recebeu um Oscar honorário pela importância de sua obra, neste ano concorre ao prêmio na categoria de melhor documentário, por seu trabalho em Visages Villages. Ainda nessa categoria temos a indicação de  Abacus: Pequeno o Bastante para Condenar, produzido por Julie Goldman.

O único filme estrangeiro dirigido por uma mulher que conseguiu chegar à disputa do Oscar é Corpo e Alma, da cineasta Ildikó Enyedi (O Meu Século XX), da Hungria. Por outro lado, dois dos cinco indicados na categoria melhor animação também são dirigidos por mulheres: The Breadwinner, de Nora Twomey e Com Amor, Van Gogh, de Dorota Kobiela. Vale citar que também há mulheres indicadas nas categorias de edição de som, mixagem de som, design de produção, figurino e roteiro original.

Para encerrar, cito o trabalho de Patty Jenkins em Mulher-Maravilha. Com o sucesso de público e crítica do longa da super-heroína, era de se esperar que a Academia reconhecesse o trabalho da cineasta, como fez em outras poucas ocasiões com filmes de heróis. Infelizmente não ocorreu, mas tenho certeza que outras heroínas e protagonistas femininas relevantes estão por vir para trazer mais diversidade, justiça e igualdade à sétima arte.

Agnés Varda, diretora de Visages Villages

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