CRÍTICA | 15h17: Trem Para Paris

Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dorothy Blyskal
Elenco: Alek Skarlatos, Anthony Sadler, Spencer Stone, Jenna Fischer, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


Contar uma história baseada em fatos é uma tarefa que requer planejamento, inteligência e o uso dos melhores recursos técnicos possíveis, mas também ousadia e criatividade. O mais novo trabalho de Clint Eastwood (Sully: O Herói do Rio Hudson) na direção chega com um grande desafio: contar um acontecimento real com as pessoas que vivenciaram o ocorrido nos papéis principais. Uma aposta improvável e que foge do convencional, disso não temos dúvidas.

15h17: Trem Para Paris (The 15h17 to Paris) é inspirado no livro homônimo escrito por Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone, três amigos em tour pela Europa que estavam a bordo do trem 9364 da Thalys, que saía de Amsterdã com destino a Paris no dia 21 de agosto de 2015. O veículo foi alvo de ataque do terrorista marroquino Ayoub El Khazzani, que portava um fuzil Kalashnikov, nove carregadores, uma pistola automática e uma guilhotina de cortar papel, tendo ferido duas pessoas antes de ser completamente dominado pelos três norte-americanos e preso.

Antes do incidente, porém, o filme se preocupa em mostrar ao público como Anthony, Alek e Spencer se conheceram, a infância complicada que que tiveram em Carmichael, na Califórnia, o treinamento militar de Alek e Spencer na Guarda Nacional de Oregon e aviador da Força Aérea dos Estados Unidos, bem como o roteiro da viagem que faziam, passando por Roma, Amsterdã e Paris, até o acontecimento principal que dá suporte ao longa.

Foto: Warner Bros Pictures

Com roteiro adaptado por Dorothy Blyskal (Logan), o longa tem a proposta clara de discutir o conceito de heroísmo nos dias atuais, com o suporte daqueles exerceram as ações na vida real, além de ilustrar a importância da amizade, da empatia e de como as crenças, sejam quais elas forem, movem as pessoas. A história se preocupa não só em relembrar um ato excepcional e digno de todas as honrarias, mas em fugir do tradicional documentário, apresentando um thriller com momentos de tensão e que também discute se existe ou não o acaso. São premissas que justificam sua produção, mas que apresentam falhas em sua execução.

A utilização de flashbacks de momentos que antecederam ao atentado funciona em dados momentos, porém, em outros, soam como meros preenchimentos de lacunas deixadas pela história. A paixão dos protagonistas pelo universo militar é bem retratada, existente desde a infância, no entanto, ao chegarmos a vida adulta dos protagonistas, retratadas pelas pessoas reais, notamos a diferença, especialmente no que diz respeito a intimidade com a câmera e a naturalidade nas interações. A intenção de retratar com veracidade a emocionante trajetória dos três amigos é louvável, mas as atuações não soam naturais e prejudicam o resultado final da obra, ainda que contem com o suporte de atores profissionais como Jenna Fischer (The Office), Judy Greer (Planeta dos Macacos: A Guerra) e PJ Byrne (O Lobo De Wall Street).



Outra quebra de expectativa está na evolução dos fatos. Como o atentado em si é um evento rápido, a trajetória dos três soldados e a viagem que realizam ocupam pouco mais de dois terços do filme, que tem 96 minutos. Ou seja, apenas em sua conclusão nos deparamos com as cenas do conflito e seu brilhante desfecho. As ações apresentadas não exigiram muito dos protagonistas, mas, novamente, careceram de emoção e técnicas. Tudo parece feito de maneira mecânica e rápida, dando a impressão de que a obra deveria pular logo para o ato final, o que é decepcionante.

Foto: Warner Bros Pictures

Quando falamos de Clint Eastwood como cineasta, pensamos em longas com narrativas bem construídas, histórias impactantes, boas performances e recursos técnicos aprimorados. Infelizmente não vemos isso em 15h17: Trem Para Paris. O ato heroico de Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone não é apagado, mas não foi bem "traduzido" para a grande tela. Heroísmo pede um filme épico, e, nesse ponto, a obra fica devendo.

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