CRÍTICA | Eu Sou Mais Eu

Direção: Pedro Amorim
Roteiro: Angélica Lopes e L.G. Bayão
Elenco: Kéfera Buchmann, João Cortês, Giovanna Lancellotti, entre outros
Origem: Brasil
Ano: 2019


Depois que Kéfera Buchmann (É Fada!) atingiu sucesso no YouTube, se tornando uma das principais influenciadoras digitais do país, ela focar em seu trabalho como atriz. Em 2016 protagonizou seu primeiro longa-metragem, O Amor de Catarina, e a partir daí novas oportunidades foram surgindo, como Gosto Se Discute (2017) e, agora, o seu mais recente lançamento, Eu Sou Mais Eu, uma nova comédia semi biográfica que discute os efeitos do bullying na juventude. 

Na trama acompanhamos a vida de Camilla (Buchmann), uma cantora pop de muito sucesso, que é arrogante e esnoba todos ao seu redor. Eis que uma fã com uma espécie de poder misterioso a envia para o passado, mais especificamente para 2004, quando a protagonista era uma estudante destrambelhada do ensino médio, melhor amiga do esquisitão Cabeça (João Côrtes) e alvo do bullying da "patricinha" Drica (Giovanna Lancellotti) e suas amigas. Enquanto a cantora não compreender o motivo de ter sido obrigada a voltar ao passado, ela estará ali, presa, com as condições sofríveis que sempre odiou, até encontrar uma forma de quebrar o encanto e redescobrir sua essência.

O roteiro escrito pela dupla Angélica Lopes (Divórcio) e L.G. Bayão (O Doutrinador) é manjado e pouco original. Aqui temos os mesmos tipos de coadjuvantes esteriotipados que estamos acostumados a assistir nas comédias pastelões: o amigo bobalhão, a patricinha linda e malvada, a família que não enxerga os problemas da protagonista. São as mesmas situações vistas dezenas de vezes, adaptadas para os anos 2000 no Brasil.

Foto: Primeiro Plano / Catarina Sousa

Se isso não bastasse, o próprio conceito de viagem no tempo para fazer a personagem central refletir acerca de suas decisões do passado é um recurso de roteiro deveras batido no cinema. A continuidade de produções desse tipo busca unicamente trazer a mensagem de como devemos encarar e mudar as consequências de nossos atos. Por outro lado, a direção de Pedro Amorim (Mato Sem Cachorro) eleva o nível do longa-metragem de um modo geral, incluindo elementos nostálgicos inerentes a quem cresceu nos anos 2000, tornando a trama mais atraente. Da mesma forma, os departamentos de arte e figurino ajudam o espectador a voltar no tempo com a protagonista de forma competente.

João Côrtes (O Segredo de Davi) é outro ponto positivo da produção, já que seu personagem serve como ponte entre o presente e o passado de Camilla. Kéfera, por sua vez, mostra perceptível evolução enquanto atriz, mas arrisco dizer que ainda não encontrou o tom ideal para sua persona cinematográfica.

Embora o enredo lembra e muito filmes como De Repente 30 (13 Going on 30,2004), ou ainda o francês Camille Outra Vez (Camille Redouble, 2012), Eu Sou Mais Eu termina sem uma trajetória de reflexão de sua principal personagem. Camilla não muda em nada, apenas apoia seu amigo em um momento para lá de ridículo, fazendo com que o seu futuro (ou presente) continue quase exatamente do jeito que havia deixado para trás.

Foto: Primeiro Plano / Catarina Sousa

A mensagem geral é repetitiva. E quem ler a sinopse dificilmente não adivinhará o desfecho da trama. Ainda assim a nostalgia e a trilha sonora podem agradar, assim como a simples presença de Kéfera para seus fãs. Mas, no fim, Eu Sou Mais Eu não passa de um besteirol da época menos inspirada da sessão da tarde.

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