House of Cards | 6ª Temporada


A saga dos Underwood finalmente chegou ao fim. Claire (Robin Wright) deixou para trás seu sobrenome e qualquer ligação com Francis (Kevin Spacey), com o intuito de tentar carregar esse "bonde desgovernado" até a linha de chegada. House of Cards então apaga completamente seu antigo protagonista, mas não sem antes deixar um rastro de sangue (e dúvidas) pelo caminho.

A sexta e derradeira temporada da série é um aglomerado de decisões questionáveis. Muitas delas impulsionadas pela saída não planejada de Kevin Spacey (Em Ritmo de Fuga), após várias acusações de assédio. A sensação que fica ao longo dos oito episódios (um número menor se comparado aos anos anteriores) é de que muito foi feito as pressas, sem uma certeza da conclusão da narrativa, adaptando o que foi possível para que a trama encerrasse de maneira satisfatória.

E o final propriamente dito soa até engraçado, porque, bom... vou deixar esse assunto para logo mais, enquanto tomo um gole d'água.

Logo nos minutos iniciais do primeiro episódio descobrimos que Francis Underwood está morto. E é isso. Não há detalhes a respeito, nenhuma aparição em flashback, nenhum áudio, vídeo, nada. A produção fez questão de apagar completamente o personagem da série, mesmo que o roteiro faça questão de cita-lo recorrentemente ao longo de toda a temporada.

Foto: David Giesbrecht / Netflix

Evidentemente Spacey não era uma estrela solitária da companhia, assim como Robin Wright (Mulher-Maravilha) também não é. O brilho da série estava em como ambos conseguiam extrair o melhor do outro. A quebra da quarta parede está lá, assim como as reviravoltas, as mortes. Os elementos continuam presentes, mas sempre parece faltar algo. E é justamente esse vazio que House of Cards não consegue preencher em seu último ano.

Por outro lado, há espaço para alguns bons acertos. Os irmãos Shepherd, Annette (Diane Lane) e Bill (Greg Kinnear), foram ótimas adições a trama, uma vez que o roteiro parece sempre estar no tom certo em suas cenas. O mesmo vale para Mark Usher (Campbell Scott), que se tornou vice-presidente. O trio, somados a Claire, brilham e nos fazem lembrar os motivos que nos fizeram acompanhar a série até aqui.

Vale destacar que, apesar de ganhar destaque na temporada, Doug Stamper (Michael Kelly) acaba ficando abaixo dos outros. Fora de tempo, o ator parece cansado em seu papel, um personagem que pareceu perder sentido após a saída de Frank. Não apenas ele, mas alguns personagens soam inseridos na trama sem justificativa. Linda (Sakina Jaffrey) e Cath (Jayne Atkinson) são dois ótimos exemplos. A primeira aparece em um único episódio para, basicamente, soltar uma indireta para a Claire. Já a antiga secretária do governo Underwood, surge de surpresa e sua breve presença não acrescenta em nada ao desenvolvimento da história.

Apesar das muitas pedradas disparadas por este que vos escreve, House of Cards ainda assim consegue entregar uma boa conclusão. E esse, por incrível que pareça, é um dos maiores problemas. A série merecia um final excelente, digno de seus primeiros anos, haja visto que a produção foi o carro chefe para o sucesso atual da Netflix.

Foto: David Giesbrecht / Netflix

Meu copo d'água já está vazio, então podemos falar dos últimos episódios. E caso você tenha chego até aqui sem assisti-los, fica o aviso de que podem haver alguns spoilers daqui em diante, portanto, siga por conta e risco.

A mágica da série sempre foi o "como". Tal qual uma tira de Calvin e Haroldo, o destino pouco importa quando a viagem te traz uma experiência única (saudades LOST). E é aí que mora o meu problema com o final de House of Cards.

Frank matou diversos personagens em sua busca incansável por poder. Zoe, Lucas, Russo e tantos outros, foram peças no tabuleiro que, por acaso, estavam no caminho para sua glória pessoal. Mas acabar com a vida dessas pessoas nunca foi o plano principal. Quando chegamos ao limiar dessa temporada, o roteiro se torna extremamente preguiçoso, resumindo sete episódios que poderiam trazer intensas disputas por poder por: temos que matar fulano. Sério, mesmo?

A morte foi, muitas vezes, o meio para que se conquistasse algo, mas nunca a resolução. Limitar a conclusão da série a um plot tão simplista e clichê é, no mínimo, triste. Ainda mais quando estamos falando de um produto que sempre primou pela inteligência e qualidade de seu roteiro.

Foto: David Giesbrecht / Netflix

E então, House of Cards se despede. Talvez não da melhor forma possível, mas com certeza no momento certo, pois continuar a série seria um erro ainda maior do que a escolha duvidosa de seu final. É o famoso "o que temos pra hoje", levando em conta todas as turbulências recentes.

    Bom


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Eduardo Fernandes é jornalista e acha incrível como em 2019 ainda tem quem use um mp3 player.

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