CRÍTICA | Cadê Você, Bernadette?


Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater, Holly Gent e Vincent Palmo Jr.
Elenco: Cate Blanchett, Emma Nelson, Billy Crudup, Kristen Wiig, Steve Zahn, Laurence Fishburne, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2019


Conhecido por sua filmografia naturalista e que dialoga com públicos de diversas idades, o diretor Richard Linklater (Boyhood: Da Infância à Juventude) mostra novamente ser um profissional diferenciado e cada vez mais maduro na função. Suas obras são compostas por histórias instigantes e baseadas em recortes do cotidiano, com situações simples ou banais, mas cheias de sentimento. Com Cadê Você, Bernadette? (Where’d You Go, Bernadette) não é diferente.

Baseada no best-seller homônimo de Maria Semple, a trama nos apresenta a Bernadette Fox (Cate Blanchett), uma arquiteta de relativo sucesso no passado e que deixou a carreira há 20 anos para cuidar da família. Seu relacionamento com as pessoas ao seu redor é complexo e difícil, chegando ao ponto de ser odiada por todas as mães da escola na qual sua filha Bee (Emma Nelson) estuda.

Ela é casada com Elgin (Billy Crudup), um gênio do ramo da informática, mas um pai e marido ausente por conta do trabalho. Cansada de todos e a ponto de ter um ataque de nervos, Bernadette é surpreendida pela filha, que lhe pede como presente uma viagem a Antártida. Sem forças e dominada pela agorafobia, doença caracterizada pelo temor a ambientes abertos, a protagonista some poucos dias antes da viagem, sem dar nenhuma explicação. Sem medir esforços, Bee começa a juntar pistas para encontrar sua mãe.

Foto: Imagem Filmes

A trajetória de Bernadette nos faz lembrar de outra protagonista vivida por Cate Blanchett (Manifesto) digna de uma verdadeira ciranda dramática. Trata-se de Jasmine, personagem central Blue Jasmine (2013) papel que inclusive lhe rendeu o Oscar de melhor atriz. As semelhanças entre as duas estão na personalidade paranoica, nas crises de ansiedade, no quadro depressivo e no estado mental agravado após a evolução de acontecimentos concernentes não só ao seu estado psíquico, mas à sua posição social. A diferença está no enfoque, enquanto Jasmine é retratada com certo humor por Woody Allen (Manhattan), Bernadette é mostrada com mais simplicidade em uma abordagem mais séria por Linklater. Uma pessoa que foge de seus problemas e é incapaz de enxergar seus erros. Se Jasmine ria de sua própria desgraça, aqui a protagonista se enxergava como uma ameaça à sociedade após levar um choque de realidade.

A narrativa tem ritmo cadenciado a princípio e os acontecimentos são apresentados sob o ponto de vista de Bee, que admite que a mãe passa por problemas, mas ainda a vê como sua melhor amiga. Na medida em que situações bizarras na vida de Bernadette são mostradas, passamos a conhecer mais da personagem. O que poderia parecer um tanto confuso funciona bem, já que os diálogos são leves e ganham seriedade aos poucos. Além disso, a forma como o conflito é resolvido nos mostra que nem sempre sabemos tudo da pessoa que juramos conhecer tão bem.

O mérito de Linklater está em apresentar um contexto de forma simples, sem rodeios e com situações críveis, que ocorrem na vida de qualquer um. Quem acompanha o longa consegue se sentir envolvido e solidarizado com os personagens, além de refletir sobre como eles encaram o mundo, as posturas que adotam e as que deveriam ser postas em prática, tirando lições importantes do roteiro.

Foto: Imagem Filmes

A produção também funciona muito bem graças ao trabalho de Blanchett, que costumeiramente faz preparações e estudos aprofundados de suas personagens, mergulhando de corpo e alma em seus papéis. A autenticidade que imprime à Bernadette a torna tão real como qualquer um de nós. Prova do talento da excepcional atriz que é.

Com abordagem precisa e honesta, trazendo uma realidade que reflete problemas e comportamentos sociais contemporâneos, Cadê Você, Bernadete? não é mero entretenimento, mas também uma bela história sobre a vida e os percalços pelos quais passamos e precisamos superar.

Ótimo

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