CRÍTICA | Gangues de Nova York

Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Jay Cocks, Steven Zaillian e Kenneth Lonergan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Daniel Day-Lewis, Cameron Diaz, Liam Neeson, John C. Reilly, entre outros
Origem: EUA/Itália
Ano: 2002


Gangues de Nova York (Gangs of New York) é o retrato cruel e brutal que Martin Scorsese (Cassino) faz não apenas de uma era, mas dos limites do ser humano. Ou talvez da falta deles.

Inspirado no livro "As Gangues de Nova York: Uma história informal do submundo de Nova York", escrito por Herber Asbury, o filme conta a história de Amsterdam (Leonardo DiCaprio) em busca de uma vingança pessoal, já que seu pai, o Sacerdote Vallon (Liam Neeson) foi morto por Bill "O Açougueiro" Cutting (Daniel Day-Lewis) 16 anos antes em Nova York.

Pelo fato da trama se passar entre os anos 1830 e 1863, há bastante contexto histórico sobre a fundação da icônica cidade, inclusive com inserções de artigos, reportagens e desenhos da época. Nesse ponto, há de se destacar o design de produção e figurino como pontos fortes da obra, já que a ambientação é perfeita. Ainda assim, Scorsese opta por focar sua narrativa nas relações humanas, deixando Nova York como pano de fundo. E talvez esse seja o maior acerto do roteiro, já que o trio de protagonistas entrega atuações muito acima da média.

Foto: Miramax

Em 2002, em seu primeiro trabalho com Scorsese, Leonardo DiCaprio (O Lobo de Wall Street) vivia um momento de transição, provando que era muito mais do que um rosto bonito em Hollywood, completamente entregue ao papel e mostrando todo o amadurecimento de seu personagem ao longo da narrativa. Cameron Diaz (O Máskara) vivia o auge da carreira, ainda que sem grande destaque aqui. Agora, é Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma) quem domina todas as atenções quando surge em tela, provando que mesmo quando coadjuvante, continua sendo magnético aos olhos do espectador. O Açougueiro é de longe a coisa mais memorável de Gangues de Nova York.

Scorsese acerta a mão ao entregar um filme intenso, mas que não se utiliza da violência de forma gratuita. Os banhos de sangue são quase um personagem da história, assim como o romance que surge em tela. A premissa clichê de "história de vingança" tinha tudo para cair no banal, mas o cineasta sabe trabalhar bem os elementos do roteiro para transformar a narrativa em algo mais.

Por outro lado, o ritmo do longa é demasiadamente cadenciado, deixando a sensação de que a metragem vai além do que precisava. Um bom exemplo é a subtrama da eleição do deputado, que ganha um bom tempo de tela, mas não faz a narrativa progredir em nada. Gorduras que poderiam ter ficado facilmente na sala de edição.

Foto: Miramax

Por fim, Gangues de Nova York se torna uma das obras mais políticas e humanas de Martin Scorsese. Dá pra enxergar muito do diretor em sua criação, tanto pela lado bom quanto em alguns vícios de sua filmografia, que nem sempre serão positivos em todas as suas obras. Faz parte do show, como com qualquer outro realizador de sua categoria.

Bom

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Eduardo Fernandes é jornalista e tem plena consciência que não conseguiria ter um bigode igual ao do Açougueiro.

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