CRÍTICA | O Irlandês

Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Steven Zaillian
Elenco: Robert De Niro, Joe Pesci, Al Pacino, Harvey Keitel, Ray Romano, Bobby Cannavale, Stephen Graham, Anna Paquin, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2019


O Irlandês (The Irishman), novo longa do aclamado Martin Scorsese (Ilha do Medo), traz em seu elenco nomes de peso de sua filmografia, como Robert De Niro (Os Bons Companheiros), Joe Pesci (Cassino) e Harvey Keitel (Caminhos Perigosos), além de promover uma parceria inédita com Al Pacino (Scarface). O filme, que demorou anos para sair do papel passando por diversos estúdios até chegar à Netflix, é uma adaptação do livro "I Heard You Paint Houses", de Charles Brandt, que é baseado em fatos e gira em torno dos relatos de Frank “The Irishman” Sheeran (De Niro), um caminhoneiro e veterano da segunda guerra mundial que se torna um importante assassino de aluguel para a máfia. O personagem narra o longo caminho que o fez se tornar tão respeitado no meio, colocando-o como líder sindical e um dos principais nomes envolvidos no desaparecimento de Jimmy Hoffa  (Pacino), um poderoso ex-presidente sindical.

Scorsese, como de costume, mostra todo seu talento como cineasta, apresentando uma narrativa bem construída e alinhada com seu design de produção primoroso. O roteiro de Steven Zaillian (A Lista de Schindler) retrata com riqueza a trajetória do protagonista e de seu núcleo central, sem deixar pontas soltas e entregando tudo que o espectador precisa para entender o que se passa. Nada é subjetivo e nada precisa ser interpretado.

Foto: Netflix

Após escolhas duvidosas recentes em sua carreira, De Niro mostra que ainda tem muito a entregar ao cinema, apresentando um personagem diferente dos mafiosos habituais que já interpretou. O mesmo podemos dizer de Pacino, que rouba a maioria de suas cenas, já que a personalidade explosiva de Hoffa parece casar perfeitamente com o estilo do ator. Ver os dois compartilhando a tela é um deleite, fazendo de Pesci uma espécie de "cereja do bolo", diferente de tudo que já fez com Scorsese, comedido e ameaçador como nunca, o que nos faz agradecer por ele ter deixado a aposentadoria para viver o mafioso Russell Bufalino.

É preciso mencionar também o primoroso trabalho de efeitos digitais. O Irlandês talvez seja o primeiro filme a utilizar o recurso de rejuvenescimento de atores por tanto tempo em tela e em múltiplos personagens. Se a técnica não funcionasse, o resultado final da obra certamente seria comprometido, já que grande parte da trama se passa nos anos 1960 e 1970 (com passagens pelos anos 1940), chegando aos dias atuais. A técnica, de qualidade invejável, é também sutil, nunca tirando a experiência do espectador, o que é algo impressionante.

Se o filme tem um problema, talvez seja sua longa duração, afinal, três horas e trinta minutos não é para qualquer um. Ainda que a metragem se justifique em tela com uma narrativa que precisava de tempo para se desenvolver plenamente, é inegável que o espectador se senta cansado em determinado, o que pode passar a falsa impressão de um longa massante ou demasiadamente longo sem necessidade.

Foto: Netflix

No fim, O Irlandês é um filme digno de todos os elogios que recebe da crítica e de boa parte do público. Uma espécie de "grand finale" (ainda que não seja o fim) da carreira desses grandes atores e de seu realizador ímpar. Um longa que muito provavelmente deve ganhar algumas indicações ao Oscar, já que a Netflix permitiu sua elegibilidade para a premiação possível, exibindo-os em salas de cinema pelo mundo.

Ótimo

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