CRÍTICA | Boi Neon

Direção: Gabriel Mascaro
Roteiro: Gabriel Mascaro
Elenco: Juliano Cazarré, Maeve Jinkings, Josinaldo Alves, entre outros
Origem: Brasil / Uruguai / Holanda
Ano: 2015

Dirigido por Gabriel Mascaro (Divino Amor), Boi Neon venceu diversos prêmios em festivais de cinema, como o Transilvania International Film Festival Awards (TIFF Awards). O longa-metragem conta a história de Iremar (Juliano Cazarré), um vaqueiro nordestino que viaja e trabalha com competições de vaquejada. Ele sonha em juntar dinheiro suficiente para poder confeccionar suas próprias roupas, se tornando um estilista no Polo de Confecções do Agreste.

As personagens são diversas, porém não transmitem nenhum pouco de simpatia que nos faça identificar ou sentir compaixão. Aceitamos que aquela é a situação que eles vivem e não vemos muito otimismo com o desenvolvimento da narrativa. Como o que ocorre entre Galega (Maeve Jenkins) e Cacá (Alyne Santana). Ambas permanecem juntas por pressão do destino, mas na maior parte do tempo trocam faíscas de tanto que discutem.

O roteiro, também de Mascaro, possui um efeito "kafkiano" em que, ao termino da projeção, fazemos ligação de alguns pontos. Quem é homem e quem é animal? Os personagens nos confundem no modo como agem. Notamos que todos os humanos naquele ambiente se dividem em dois tipos: cavalos e bois. Cabe ao público identificar e abrir discussões sobre a personalidade daqueles que estão em tela.

Foto: Desvia Filmes

Em certos momentos somos conduzidos em cenas "cults", abstratas, que surgem em tela sem qualquer tipo de explicação para que questionemos sua razão de ser. Todas elas relacionadas aos animais, seja ele um cavalo ou boi. São performances inteiramente artísticas, sem diálogos por parte dos personagens, por vezes durando dois ou mais minutos, trazendo uma sensibilidade notável à obra.

De repente, somos apresentados a Júnior (Vinícius de Oliveira), que logo desenvolve uma boa relação com Cacá e Galega. Retomando a analogia dos personagens serem divididos como personificação de animais, vemos como Cacá o recebe e elogia seus dentes. Ela frisa como a boca é bonita, enquanto Iremar se incomoda e pede para a menina ir embora dali. Nesse momento notamos a relação com Franz Kafka (A Metamorfose) e o ditado:

“Cavalo dado não se olha os dentes.”

Vale mencionar o belo trabalho de montagem realizado, já que as cenas da vaquejada são imagens de arquivo, ou seja, não foram filmadas com esse propósito. Detalhe importante para que a produção não se sujeite a qualquer tipo de maltrato aos animais.

Foto: Desvia Filmes

Boi Neon está longe de ser comparado à produções convencionais, daquelas em que o protagonista possui um clímax narrativo. É misterioso e cheio de poesia. Seus elementos são apresentados aos poucos e o espectador vai montando o quebra-cabeça em sua mente. Quando nos damos conta de todo aquele universo o filme acaba, e ecoa em nossos pensamentos.

Bom

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