CRÍTICA | Pânico VI

Direção: Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett
Roteiro: James Vanderbilt, Guy Busick e Kevin Williamson
Elenco: Melissa Barrera, Jenna Ortega, Jasmin Savoy Brown, Mason Gooding, Courteney Cox, Hayden Panettiere, Dermot Mulroney, entre outros
Origem: EUA/Canadá
Ano: 2023

Tendo um intervalo de menos de um ano entre Pânico (2022) e este Pânico VI (Scream VI), é digno de aplausos o fôlego que a série de filmes mantém com seu público cativo, mas também para atrair sempre novos espectadores. E faz isso enquanto sustenta uma fórmula estabelecida há quase 30 anos por Wes Craven (A Hora do Pesadelo) no primeiro Pânico (1996). Contudo, parte da dinâmica da franquia que ainda a permite ser tão atual é sua genética de metacomentário assertivo, sem perder a intensidade das clássicas cenas de slasher, tornando suas obras uma ambivalência equilibrada entre sátiras de gênero e thrillers envolventes.

Como todo longa envolve um jogo de enganações típicas de mágica de palco, o constante truque de desvio de atenção vai desafiando o espectador e tornando-o cúmplice de uma brincadeira sangrenta. Apesar desta lógica prevalecer, o acúmulo de sequências leva a cada novo espetáculo o desafio de exceder seus predecessores. Tirando proveito do hiato de 11 anos entre continuações, Pânico V estabelece um novo elenco principal para ser alvejado pelos herdeiros da máscara do Ghostface, enquanto trazia seus personagens clássicos para tecer um debate sobre legado e reboot de obras consagradas. Ali fomos introduzidos às irmãs Sam (Melissa Barrera) e Tara Carpenter (Jenna Ortega) e aos gêmeos Mindy (Jasmin Savoy Brown) e Chad Meeks (Mason Gooding).

Já em Pânico VI, os diretores Matt Bettinelli-Oplin (Casamento Sangrento) e Tyler Gillett (O Herdeiro do Diabo) subvertem a conversa para o tema de “franquias” e o vigor encontrado nos últimos anos para sustentar a circulação ininterrupta de dinheiro em cima de propriedades intelectuais estabelecidas, de forma que a “marca” se torna um poder maior do que sua “história”. Assim, ameaça seu elenco. Ninguém está seguro, nem os personagens-legado como Gale Weather (Courteney Cox) e Kirby Reed (Hayden Panettiere).

Paramount Pictures

A trama sai de Woodsboro para a grande Nova York, trazendo todo um leque novo de problemas e possibilidades no ambiente urbano. Consciente disso e ainda reativa ao trauma vivido no ano anterior, Sam assume uma postura superprotetora com sua irmã mais nova, agora na faculdade (uma rima com Pânico 2), enquanto lida com o fortalecimento de rumores dela ter sido a mente por trás dos últimos assassinatos. A descoberta de ser filha de Billy Loomis (Skeet Ulrich) ainda a persegue psicologicamente, pois em algum lugar dentro de si ela sente ter saboreado o gosto da faca ensanguentada estar em suas mãos ao invés do contrário quando foi algoz do antagonista anterior.

A nova encarnação do Ghostface parece especialmente interessado nesses rumores, querendo transferir a culpa dos novos assassinatos para Sam. O sentimento de rejeição que a personagem experimenta também tem sua carga de metalinguagem, pois está vinculado à recepção fria com a qual os fãs receberam a nova final girl - tendo a franquia decidido que Sidney Prescott (Neve Campbell) merece seu final feliz.

Pânico VI traz um movimento tão autoconsciente que parece atento a todas as críticas levantadas anteriormente, e é nesses pontos que localiza seu foco. O novo Ghostface está mais violento e brutal do que nunca, com um vigor físico ameaçador em sua presença, mas Sam também se transfigurou em uma protagonista igualmente implacável, abraçando em certos segmentos a selvageria que é tanto incutida na imagem dela por relações que não são do seu controle.

Pânico VI evoca uma aura bem ameaçadora em suas sequências de perseguição e assassinato, sempre com novas maneiras de fabricar uma morte chocante, mas também provocando com humor a suspensão de descrença geral da audiência com a quantidade de facadas, quedas, mutilações e pancadas na cabeça que não culminam em morte, nem mesmo em um desmaio. Em geral, é provavelmente o filme que mais reverencia seus anteriores, celebra a obra de Wes Craven até mesmo com um santuário funcionando de cenário final. Também é o longa com mais subversões, com uma sequência bem merecida da protagonista virando a mesa contra seu perseguidor, apesar de que só funciona com tanta elegância pela evolução sensacional do personagem da Melissa Barrera (Em um Bairro de Nova York), definitivamente o ponto forte dessa continuação.

Paramount Pictures

Este quinto retorno da franquia solidifica com mais carisma sua nova equipe principal de sobreviventes, deixando apenas como maior ponto negativo a contagem quase nula de assassinatos. Muita pouca gente efetivamente morre, apesar da brutalidade dos esfaqueamentos, deixando o espectador com um gosto de ter sido tapeado pelo blefe de que “ninguém estaria a salvo”. Resta descobrir o quanto essa segurança vai se preservar na próxima continuação já encomendada.

Ótimo


Comentários