CRÍTICA | Mais e Melhores Blues

Direção: Spike Lee
Roteiro: Spike Lee
Elenco: Denzen Washington, Spike Lee, Wesley Snipes, Giancarlo Esposito, Joie Lee, John Turturro, Samuel L. Jackson, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1990

“Se dependêssemos dos negros para comer, morreríamos de fome. Você sabe, é da banda. O que vemos na plateia? Vemos japoneses, alemães ocidentais. Vemos de tudo, menos nossa gente. Não faz sentido. Me revolta ver que a nossa própria gente não valoriza nosso legado, nossa cultura.”

Apesar de inúmeras tentativas de apagamento, é impossível negar as raízes negras do jazz, ritmo musical símbolo dos Estados Unidos e que demonstra a importância do povo negro para a construção dessa nação e de sua cultura. Quando filmes sobre jazz são protagonizados apenas por pessoas brancas, vemos um claro esforço para desvinculação e embranquecimento de um gênero que, na realidade, reinava em um contexto de periferia e estrelava músicos e cantores negros.

Spike Lee (Faça a Coisa Certa) em Mais e Melhores Blues (Mo' Better Blues) joga fora todo resquício de racismo estrutural presente nessas narrativas e coloca em cena os seus verdadeiros protagonistas.

Foto: Universal Pictures

Lançado em 1990, o longa acompanha a trajetória de Bleek Gilliam (Denzel Washington), um trompetista de sucesso, educado desde criança para brilhar nos palcos do Harlem. Extremamente centrado na carreira, Bleek deixa de lado outros aspectos de sua vida, incluindo os relacionamentos amorosos, que se alternam de forma displicente entre duas mulheres, e as amizades, que se resumem a uma relação de longa data com o empresário Giant (Spike Lee) e ao trabalho com os colegas de banda. Quando um dos músicos começa a ganhar mais destaque durante os shows, uma rivalidade logo surge e, combinada com outros problemas, acaba levando o trompetista ao ostracismo. 

Apesar de não ter o tom incendiário e polêmico de outras obras da filmografia de Spike, Mais e Melhores Blues merece referência, pois tece importantes reflexões sobre o jazz, além de preservar a riqueza e a qualidade técnica típicas do cineasta. Nele, imagem e som se combinam perfeitamente, com cenas em que a iluminação de cores vibrantes - principalmente vermelho e azul - conversa com a música e compõe o ambiente boêmio e noturno do Harlem. Os movimentos de câmera e a montagem contribuem para dar um ritmo frenético e até dançante em alguns momentos precisos da trama como, por exemplo, quando o protagonista pratica com o seu trompete ou quando ele discute com as suas duas “namoradas”.

Mais e Melhores Blues é também um filme sobre legado e tradição. Se no começo da narrativa, vemos o pequeno Bleek sendo educado de forma intransigente pela mãe, no final, reconhecemos um um protagonista mais maduro passando os mesmos ensinamentos para o seu filho, mas dessa vez sem a rigidez que o oprimiu na infância. Com esse paralelo simples, porém, significativo, Spike Lee nos mostra outro importante traço da cultura negra: a oralidade sendo usada para transmitir e perpetuar conhecimentos de geração em geração. Um ciclo termina para outro logo recomeçar. 

Foto: Universal Pictures


Bom

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