CRÍTICA | Indiana Jones e o Templo da Perdição

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Willard Huyck e Gloria Katz
Elenco: Harrison Ford, Kate Capshaw, Ke Huy Quan, Roy Chiao, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1984


Ao som de tambores e gritos de fundo, um homem vestido com túnicas cerimoniais e um crânio animalesco na cabeça entoa preces em um idioma desconhecido e caminha em direção a uma pessoa em prantos. O clímax desse ritual de sacrifício não poderia ser outro: o tal sacerdote arranca o coração pulsante da vítima acorrentada. Essa é apenas uma das inúmeras cenas memoráveis de Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom), longa lançado em 1984 e que marcou mais uma parceria entre os criadores Steven Spielberg (E.T.: O Extraterrestre) e George Lucas (Star Wars: A Vingança dos Sith).

O segundo filme da clássica trilogia (que mais tarde ganharia um quarto capítulo) carrega um clima muito mais sombrio, com cenas chocantes e temáticas pesadas, por isso, seu estilo difere e muito dos outros longas. Entretanto, essa diferença não é à toa, já que o próprio Lucas fez questão que a narrativa seguisse esse caminho, mesmo a obra não tendo sido um dos produtos mais comerciais ou rentáveis para a saga. Em entrevista produzida para a coleção de DVDs “As Aventuras de Indiana Jones”, o produtor traça um paralelo entre a trilogia original de Indy e a de Star Wars, já que o segundo filme de ambas as franquias adotam esse tom mais pesado e macabro. 

Mas as semelhanças entre as duas sagas de sucesso param por aí, pois O Templo da Perdição não é uma continuação direta de Os Caçadores da Arca Perdida (1981), pelo contrário, ele se passa um ano antes cronologicamente, em 1935.

Dessa vez, o malandro arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford), em companhia da cantora Willie Scott (Kate Capshaw) e do pequeno Short Round (Ke Huy Quan), decide ajudar um povoado indiano que teve todas as suas crianças sequestradas e a sua pedra sagrada roubada. Nessa jornada altruísta, os três protagonistas se tornam hóspedes em um palácio suntuoso que esconde um grande segredo em seu subsolo. 

Foto: Lucasfilm

O culto à Kali, deusa hindu da destruição e do renascimento, é o pano de fundo do filme, responsável, portanto pelas cenas mais violentas e chocantes, já que o ritual é representado como algo maléfico com direito a sacrifício humano, corações arrancados e bonecos vodus. Além disso, O Templo da Perdição trata também sobre exploração e maus tratos infantis. Na entrevista citada anteriormente, George Lucas comenta também que, apesar desses aspectos não serem inéditos, a produção conseguiu trabalhá-los com maestria. 

Assim como em outros longas do gênero, as cenas de ação ocupam grande tempo em tela e desde a primeira sequência são de tirar o fôlego. Aqui elas são ritmadas pela trilha sonora clássica de John Williams (Tubarão), que se permite criar novos temas também para os novos personagens que conhecemos em tela.

Outro aspecto técnico marcante é a cinematografia de Douglas Slocombe (A Dança dos Vampiros), que valoriza o design de produção de cada cenário e locação, nos brindando com belas tomadas em planos abertos.

Não é exagero dizer que O Templo da Perdição conta com várias cenas inesquecíveis, para além da mencionada no começo do texto. Em uma delas, por exemplo, foram usados 50 mil insetos no buraco em que Willie Scott poe a mão para salvar Indy e Short Round. Em outro momento, o trio de protagonistas participa de um banquete no mínimo bizarro e, ao mesmo tempo, hilário. Das cenas de ação em específico, destaco especialmente a perseguição na mina (uma ideia planejada inicialmente para o primeiro filme) e a icônica cena da ponte.

Foto: Lucasfilm

Como um bom blockbuster, acredito que Indiana Jones e o Templo da Perdição cumpre muito bem o seu papel de entreter. O público torce pelos personagens, vibra nos momentos certos, sente nojo e tensão quando tem que sentir. Só não é um filme perfeito pois, sob o olhar atual é impossível não problematizar a representação extremamente estereotipada de sua única personagem feminina. Da mesma forma, a representação da cultura e do povo indiano também me causou certo incômodo. Nada, é claro, que nos leve a “cancelar” o filme, mas sim assisti-lo consciente de suas limitações históricas.

Ótimo

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