CRÍTICA | A Bruxa

Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers
Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Ineson, Kate Dickie, entre outros
Origem: Canadá / EUA
Ano: 2015


Há uma promissora safra do gênero de terror no cinema atual e A Bruxa (The Witch), de Robert Eggers (O Farol), é um exemplo perfeito de filme fértil dentro de determinado gênero, buscando uma mistura entre o macabro e o psicológico. 

O roteiro, do próprio Eggers, é baseado em registros históricos e relatos populares sobre a caça às bruxas que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa no século XVII, e nos conta de forma muito peculiar um drama sombrio que se passa cerca de sessenta anos antes do popularmente conhecido julgamento das bruxas de Salém. 

A história se passa na década de 1630, na Nova Inglaterra, onde vemos uma família de camponeses ser expulsa da vila de produção agrária em um julgamento. O patriarca, William (Ralph Ineson), fala de castigo divino e do peso das mãos de Deus sobre os aldeões, mas o verdadeiro motivo de seu julgamento e a escolha para o exílio não são explicados. Vemos a família, pai, mãe e cinco filhos - dentre eles, um bebê - saírem do local e se instalarem em uma floresta, de onde surge, imediatamente, o trabalho conceitual e estético do diretor para o componente de terror da obra, com uma excelente construção de atmosfera. 

É importante ressaltar que A Bruxa é um filme assustador, mas não pelos motivos que normalmente estamos acostumados. O horror aqui é histórico, cultural, psicológico, baseado no medo do desconhecido, o pavor dessa nova terra. Além da culpa do fundamentalismo religioso, na qual os personagens acreditam serem fadados ao pecado e tentados a todo momento pelo mal, retirando da raiz cristã o seu medo e reflexão sobre o mal, construindo uma atmosfera de apreensão e muito suspense até que as coisas enlouquecem no desfecho. 

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A fotografia esmaecida de Jarin Blaschke (Por um Corredor Escuro) se coloca como um dos melhores elementos da produção, ressaltando as sombras nas relações familiares. A alternância de momentos com a trilha sonora para dar o suspense com ocasiões de silêncio é angustiante.

Os excelentes figurinos são resultado de uma pesquisa histórica cuidadosa, e o preciso design de produção soube organizar muito bem a composição do que deveria aparecer. Tudo isso dentro de um ritmo de quadro que dá a Eggers méritos pela sua direção. Algo que não acontece, no entanto, quando olhamos para o seu roteiro, que é o que torna A Bruxa um filme bem menor do que parece. 

O primeiro ato do longa se constrói como impulso psicológico para o espectador como inserção da família protagonista no cenário de onde o medo virá. Muitas vezes o horror não é trabalhado direito, tanto que a grande surpresa, o mal de fato, aparece apenas no final da projeção, tendo antes disso uma preparação de terreno que traz curiosidade, chegando a encantar com o jogo de “quem é a bruxa nessa história toda?". Mas, em seus minutos finais, o texto assume uma personalidade que simplesmente destrói o fator surpresa e quase tudo o que poderia fazer sentido e permanecer em alta até ali, se esvai. 

O desfecho de A Bruxa, que poderia elevar o longa a outro patamar, acaba traindo o próprio roteiro pelo clichê envolvido, subtraindo, inclusive, o teor de maldade e vitória das forças do mal com um tipo de deleite particular para personagem de Anya Taylor-Joy (Fragmentado), que não se liga à linha de desenvolvimento da narrativa. E ali ficamos com uma revelação final do mal que se dá de forma injustificada e sem nenhum sentido a mais.

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