CRÍTICA | Frankenstein

Direção: James Whale
Roteiro: Garrett Fort e Francis Edward Faragoh
Elenco: Colin Clive, Boris Karloff, Mae Clarke, John Boles, Edward Van Sloan, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1931


Um homem de quase dois metros de altura, com pele esverdeada, testa grande, cicatrizes e pinos metálicos nas têmporas. Mil vezes chamado de "criatura", "monstro" e "aberração", ele se comunica apenas com grunhidos e raramente demonstra sentimentos humanos. Apesar da criação de Victor Frankenstein povoar o nosso imaginário a mais de 200 anos, a clássica imagem descrita acima surgiu apenas em 1931, com o filme Frankenstein.

Unindo ficção científica e horror, o longa-metragem foi um dos principais títulos do ciclo de Monstros da Universal, o primeiro grande estúdio hollywoodiano a investir no cinema de terror, ainda nos anos 30. Dessa série fazem parte também figuras famosas como o Drácula (1931), A Múmia (1932) e O Homem Invisível (1933), que foram responsáveis tanto pela popularização do gênero quanto pela revolução de técnicas de maquiagem e efeitos visuais.

A primeira adaptação cinematográfica do romance de Mary Shelley, datada de 1910, tem somente 16 minutos de duração, é muda e em preto e branco. Contudo, a versão mais clássica continua sendo a de 1931, pois foi ela que introduziu alguns elementos até hoje utilizados, como, por exemplo, o arquétipo do cientista louco e da criatura maligna, o ajudante corcunda, as máquinas elétricas e o vínculo entre o nome do cientista e do monstro.

Frankenstein foi dirigido por James Whale (A Ponte de Waterloo), que eternizou o ator Boris Karloff (Scarface: A Vergonha de uma Nação) no papel do monstro. Um detalhe curioso sobre essa escalação é que a princípio Bela Lugosi era cotado para o papel, já que ele havia dado vida brilhantemente ao Conde Drácula, porém, ele se recusou a participar do filme alegando que ele "era um ator, não um espantalho", o que abriu a brecha para o britânico Karloff que, até então, só havia feito pontas em longas do estúdio.

Universal Pictures

Não podemos esquecer que todo esse universo foi criado por uma jovem de 20 anos, a inglesa Mary Shelley que, em 1818, publicou de forma anônima “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”. Obra que inaugurou o gênero da ficção científica, ela foi inicialmente escrita para uma aposta, uma brincadeira entre grandes nomes da literatura como Percy Shelley e Lorde Byron para escolher a melhor história de horror. Quem podia imaginar que uma simples brincadeira iria originar um enorme legado cultural? Shelley utilizou elementos de um de seus pesadelos, baseou-se no mito grego de Prometeu e na ilustração "The Sleep of Reason Produces Monsters" (1797-99) do espanhol Francisco Goya.

O livro - e o filme, consequentemente - traz discussões muito em voga para a época, mas que ainda se mostram atuais. No início do século XIX, ciência e tecnologia estavam em renovação e a medicina apresentava novas técnicas e tratamentos. Os limites da bioética, a ambição do homem e o desprezo social contra “o outro” são algumas das temáticas exploradas tanto na obra original quanto em Frankenstein de 1931. O questionamento que Shelley se fazia ao escrever a sua obra-prima, ainda é o que nos fazemos até hoje:

“É possível criar vida?”

Conheça mais sobre a vida e obra de Mary Shelley. Para isso, indico o filme Mary Shelley (2017) e a reportagem "Criadora e Criatura: O Poder de Mary Shelley e seu Frankenstein".

Universal Pictures


Ótimo

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