CRÍTICA | A Nova Onda do Imperador

Direção: Mark Dindal
Roteiro: David Reynolds
Elenco: David Spade, John Goodman, Eartha Kitt, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2000

Todo fã da Disney tem em sua lista de favoritos ao menos um título considerado subestimado. A Nova Onda do Imperador (The Emperor's New Groove), lançado em 2000, costuma figurar nessa lista.

A produção foi na contramão do trabalho que vinha sendo pela Pixar de animações em computação gráfica. Adicione para a conta um roteiro ácido e repleto de sátiras, personagens detestáveis e caricatos e um enredo que versa sobre a ganância, o poder e o que esses dois elementos podem fazer para que uma pessoa perca totalmente sua humanidade. 

O filme é dividido em arcos que, no final, chegam a um lugar comum e as histórias se complementam. Em uma delas seguimos o arrogante Kuzco (David Spade), um imperador jovem e mimado que esnoba seus súditos mais pobres e esbanja riquezas. Do outro lado do fio ele conhece Pacha (John Goodman), um camponês que vive em uma casa simples com sua famíli, no topo de uma colina. Essa casa, aliás, é alvo de Kuzco: ele quer demoli-la para construir um palácio de verão. 

Do outro lado da história temos a dupla Yzma (Eartha Kitt) e Kronk (Patrick Warburton), consultores e auxiliares do imperador que, na verdade, o odeiam. Yzma quer tirá-lo do poder porque cobiça suas riquezas e influências, enquanto Kronk é um grandalhão com um cérebro pequeno e um coração gigantesco.

Walt Disney Pictures

Para conseguir alcançar esse poder, Yzma transforma Kuzco em uma lhama (quando na verdade queria matá-lo). Kuzco acaba vivo, mas é levado para o vilarejo do camponês e passa a entrar em contato com as mesmas pessoas pelas quais não tem qualquer sentimento de compaixão. 

Esse é um dos muitos exemplos do empenho que a Disney coloca em seus roteiros. A Nova Onda do Imperador fez escolhas consideradas ousadas, como situar a trama no Peru e abordar com muita sagacidade sobre a desigualdade social e disputas de poder. É a sátira perfeita para falar sobre chefes de países que governam sob o próprio ego e nada querem fazer para contribuir com a população que governam. 

O filme utiliza de recursos de roteiro para fazer com que o público tenha certeza sobre essa mentalidade de Kuzco, como o voice over e a quebra de quarta parede, em interrupções visuais em que o imperador (em formato de lhama) conversa com o público. Por outro lado, esses recursos acabam se tornando cada vez menos usados ao passo que a humanidade do imperador vai sendo devolvida. Não em forma física, mas a cada vez que ele ganha consciência sobre o mal que pode causar aos súditos ao agir sem considerar as vidas de outras pessoas.

Yzma e Kronk são as mentes perversas com os quais Kuzco e Pacha precisam lidar ao longo do caminho. Os dois atuam sob uma dinâmica de policial bom e policial ruim, em que Yzma é sempre a mandante e Kronk é o cara que pára para observar os pássaros ou ensinar a língua dos esquilos para as crianças do vilarejo que tanto desprezam. 

Quando um personagem ruim é apresentado ao público, espera-se que as forças ou grupos que querem derrotá-lo sejam moralmente melhores do que ele. Não é o caso aqui, já que Yzma consegue ser ainda mais perversa do que Kuzco. O alívio cômico das ações terríveis que ela quer fazer acaba sendo Kronk. O personagem é tão querido que até ganhou um filme para chamar de seu, A Nova Onda do Kronk (2005), que nem de longe tem o mesmo peso do filme original.

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A estética da animação não é tão rebuscada como, por exemplo, o que o Studio Ghibli já fazia com o 2D naquela época. Mesmo assim não deixa de ser bela, já que possui diversos detalhes e nuances que ilustram bem, principalmente, os detalhes das paisagens e dos locais luxuosos do império.

A Nova Onda do Imperador se entende, para além dessas questões, como um filme de aventura, companheirismo e amizade. As cenas em que Patcha e Kuzco precisam se livrar de alguma armadilha na qual se meteram na natureza ou a montanha-russa que leva Yzma e Kronk até o laboratório secreto deles, são dois dos momentos em que o público é capaz de se sentir naquelas situações.

Para os fãs brasileiros, a produção tem um bônus exclusivo: a dublagem marcante e primorosa, que ficou marcada no imaginário dos fãs. O elenco nacional reúne nomes como Selton Mello (O Filme da Minha Vida) como Kuzco, Humberto Martins (Reza a Lenda) como Pacha, Marieta Severo (Cazuza: O Tempo Não Pára) como Yzma e Guilherme Briggs (Toy Story 4) como Kronk. A voz de cada dublador é compatível com os personagens e o entrosamento entre eles é totalmente crível. 

A graça de A Nova Onda do Imperador é sua força como crônica e sua atualidade para falar sobre líderes tiranos e egocêntricos. A sorte é que, ao fim dos 78 minutos de duração, Kuzco consegue perceber os erros que cometia e se dá conta que poderia ser muito mais, caso se aliasse às necessidades de outros. Será que o mesmo aconteceria com os líderes do mundo real?

Excelente


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