CRÍTICA | Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança

Direção: Marcos Bernstein
Roteiro: Marcos Bernstein, Victor Atherino e Paulo Dimantas
Elenco: Cláudia Abreu, Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, César Melo, entre outros
Origem: Brasil
Ano: 2023

Com violência explícita e uma paleta de cor fria, Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia de Vingança inicia chocando o espectador, que tenta juntar as peças para compreender o que acabou de conhecer, pois vemos a advogada Carla (Cláudia Abreu) dar entrada no hospital público com sua filha Bruna (Giovanna Lima), coberta de sangue, nos braços.

A confusão enorme na mente da protagonista, que retira cacos de vidro do braço, nos faz pensar que ela pode ser vítima de um acidente de carro, mas logo lembramos da frase que abre o longa-metragem e percebemos que trata-se da vítima de uma bala perdida no centro do Rio de Janeiro:

 “Aproximadamente 50.000 pessoas morrem por arma de fogo no país todos os anos; 6.000 por atuação da polícia. Após o aumento em 97% no registro de armas de fogo, o crescimento anual de casos pulou de 0,9% para 4%."

Ao ser informada que sua filha está no terceiro estágio do coma, um grau grave, Carla começa a frequentar um grupo de apoio a pessoas que perderam seus filhos, onde conhece a idealista Natália (Júlia Lemmertz). Seus conselhos, no entanto, só servem para alimentar a vingança, que pode ser executada de inúmeras maneiras na mente da protagonista.

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Carla não deixa de aflorar seu ego, demonstrando não ter empatia por pessoas que estão na mesma situação. Ela insiste em competir com a dor psicológica de outros personagens e tenta os persuadir, entendendo que sua vida pode ser mais importante do que as dos demais, seja no grupo de apoio, nos casos do hospital ou da delegacia.

Tempos de Barbárie dialoga com o espectador escancarando a verdadeira face do Brasil nos últimos anos, fazendo um discurso pró vida, ao mesmo tempo em que se contradiz desejando a morte do próximo. Da influência, ou não, que o dinheiro da classe média pode fazer numa investigação criminal. E até em pontos mais delicados, como a fé, pode incomodar alguém mais conservador. E, não menos importante, sobre o porte de armas no país, que pode ser tido como solução para alguns.

Desigualdade social é um tema recorrente no cinema brasileiro e aqui não é diferente. O espectador observa de perto esse confronto de classes, o que gera ansiedade e medo, já que lembramos que trata-se de uma realidade do nosso país. E é curioso que a premissa nos leve a pensar que assistimos a um filme repleto de críticas sociais, como Bacurau (2019), denunciando atos corruptos e preocupantes no Brasil, mas acabamos recebendo um thriller, muito bem feito, semelhante a O Lobo Atrás da Porta (2013).

Fazendo jus ao título, Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança nos entrega uma protagonista vingativa, quase como um Oldboy (2003) tupiniquim. A violência é crua, mas necessária, fazendo com que o espectador se acostume com o que assiste em determinado momento, nos fazendo, de certo modo, amadurecer junto da personagem. Uma missão não tão fácil, convenhamos.

Excelente


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