CRÍTICA | O Caso Richard Jewell

Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Billy Ray
Elenco: Paul Walter Hauser, Sam Rockwell, Kathy Bates, Jon Hamm, Olivia Wilde, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2019


Em 27 de julho de 1996, durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, Geórgia, nos Estados Unidos, o Parque Olímpico Centenário sofreu um atentado terrorista. Uma bomba explodiu no local, matando um civil e ferindo outros cento e onze. O estrago só não foi maior porque um segurança do evento, Richard Jewell, encontrou o objeto estranho momentos antes da explosão, alertando as autoridades locais de plantão. Nos dias que se seguiram, Jewell foi investigado pelo FBI como principal suspeito do ocorrido, sendo alvo também de uma massiva e evasiva cobertura da imprensa norte-americana. Apenas em outubro do mesmo ano é que o segurança seria declarado livre de qualquer suspeita pelas autoridades do país.

O Caso Richard Jewell (Richard Jewell) é lançado então com a proposta de contar essa história. E o faz até com certa competência, mas esbarra nas pretensões ufanistas e conservadoras que Clint Eastwood (Sniper Americano) parece não conseguir deixar de lado em sua fase atual da carreira, mesmo que, bem no fundo, a intenção seja criticar o governo norte-americano.

É bem verdade que boa parte da proposta está a cargo do roteiro de Billy Ray (Projeto Gemini), que é baseado em um artigo publicado pela jornalista Marie Brenner na Vanity Fair. Na proposta do roteirista encontramos o principal problema do longa, já que os eventos são conduzidos de forma bastante maniqueísta, focando exclusivamente nos pesares vividos por Jewell (Paul Walter Hauser), ignorando fatos evidentes e "construindo", com exceção do protagonista e de seu advogado Watson (Sam Rockwell), personagens unidimensionais e caricatos.


Foto: Warner Bros Pictures

Um perfeito exemplo do exposto acima são as figuras vividas por Jon Hamm (Em Ritmo de Fuga) e Olivia Wilde (A Vida em Si). Se por um lado me alegra ver esses dois ótimos atores ganhando destaque em um filme de Eastwood, por outro é decepcionante ver a falta de “tons de cinza” de seus personagens. O agente do FBI vivido por Hamm soa como um obstinado que só pensa em incriminar Jewell, mesmo que para isso ignore provas cabais da inocência do investigado. Já a jornalista vivida por Wilde é um avatar de uma profissional sem escrúpulos, chegando ao ponto de invadir o carro de alguém, ou mesmo transar com informantes para conseguir uma notícia. Se pensarmos que obra se baseia em fatos, fica difícil acreditar que tudo é tão “preto no branco” quanto é apresentado. É como se tais arquétipos fossem extraídos de um roteiro da década de 1990, o que acaba impactando o resultado final.

Paul Walter Hauser (Eu, Tonya), por sua vez, demostra talento ao viver um personagem incomum, já que é dificílimo vermos alguém acima do peso como protagonista de um longa-metragem dramático de certo alcance. Apesar da mentalidade típica de um norte-americano médio, sem grande formação e apaixonado pela caça e armas de fogo, seu Richard Jewell tem um grau de inocência que faz com que o espectador simpatize com ele, algo essencial para que a narrativa funcione. Ao seu lado em quase todos os momentos está Kathy Bates (Titanic), com sua competência habitual, interpretando a mãe do acusado.

Apesar do papel coadjuvante, Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime) “tira leite de pedra”. O ator - que não me recordo de ter feito algum trabalho ruim em sua carreira - consegue, novamente, prender o público em tela. Mesmo sem muita informação sobre seu personagem, o carisma e talento de Rockwell fazem do advogado Watson um ser crível, fechando a tríade que faz a produção ser relevante.

Foto: Warner Bros Pictures

Por fim, é preciso mencionar que O Caso Richard Jewell opta por ignorar por completo a investigação do verdadeiro terrorista, ou mesmo menciona quem de fato cometeu tal atrocidade. A escolha, de certa forma, diminui a relevância história da produção, fazendo com que o longa figure entre os menos interessantes da extensa filmografia de Clint Eastwood como cineasta. E se pensarmos na quantidade de obras relevantes já entregues por ele, o resultado final acaba sendo decepcionante.

Bom

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