CRÍTICA | Blue Jasmine

Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins, Bobby Cannavale, Louie C.K., entre outros
Origem: EUA
Ano: 2013


Woody Allen é um sujeito admirável. Desde 1982 o cineasta lança um filme por ano, sem exceção. São 31 produções desde então (isso sem levar em conta os anos em que lançou mais de um longa-metragem) e a próxima já está em andamento. Um workaholic, sem dúvida, mas também um apaixonado pelo Cinema. É claro que com tamanha quantidade de trabalho em um curto espaço de tempo, nem sempre o diretor acerta em cheio, como no ano passado em Para Roma, com Amor (To Rome with Love, 2012). Esse ano, porém, Allen o fez. Blue Jasmine é um tiro no alvo, uma de suas melhores obras.

Jasmine (Cate Blanchett) é uma mulher da alta sociedade de Nova York que perde toda a sua fortuna quando o marido, Hal (Alec Baldwin) se suicida após ter seus negócios ilegais descobertos. Ela então vai morar com sua irmã de classe média, Ginger (Sally Hawkins), em São Francisco, onde tentará reerguer sua vida e sanar seus problemas emocionais, ao mesmo tempo em que conhece e diverge de seu novo cunhado, Chili (Bobby Cannavale).

Hábil em tratar de temas cotidianos, relações e personagens “excêntricos” - como ele próprio, Allen conduz sua obra de maneira elegante como de costume, apostando numa fotografia quente, valorizando a luz do dia (não me recordo de cenas noturnas no filme) e realçando o cabelo loiro de Blanchett, também condizente com o figurino usado pela mesma, quase sempre em tons amarelos ou dourados (numa clara associação a riqueza, imagem que a personagem a todo o momento tenta passar).

O roteiro narra duas linhas temporais, a primeira com a vida de Jasmine em São Francisco e a segunda quando a mesma ainda possuía sua fortuna em Nova York. Nesse ponto a montagem do longa-metragem se destaca, fazendo as transições de tempo de forma fluída, sem afetar o ritmo da narrativa (ainda que a obra tenha se estendido um pouco mais do que devia). E aqui Allen utiliza de uma rima sonora interessante, quase sempre interrompendo bruscamente a trilha que toca ao fundo quando há os saltos temporais.

Não há dúvida, porém, que o grande destaque de Blue Jasmine é Cate Blanchett (O Aviador). A talentosa atriz encarna o papel de uma mulher emocionalmente instável, beirando a loucura, mas de maneira crível, sem perder o bom humor. Uma interpretação que poderia facilmente tornar-se uma caricatura, mas não é. Blanchett consegue transmitir toda a emoção de Jasmine com um olhar, criando uma empatia com o público essencial para o decorrer da trama. Sentimos pena e torcemos pela protagonista em muitos momentos, ainda que seja inevitável que a repreendamos quando insistentemente comete os mesmos erros que a levaram ao “fundo do poço”. Uma indicação ao Oscar seria mais que merecida.

Passando uma importante mensagem em seu desfecho, que talvez possa soar piegas para alguns, mas que condiz com a história contada, Blue Jasmine ainda encontra tempo para homenagear clássicos em suas semelhanças, como Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, 1951), nos lembrando de que ainda é possível fazer Cinema de diálogos e situações, um Cinema que Allen domina como poucos. Especialmente quando acerta em cheio.

Ótimo

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