REVIEW | Olive Kitteridge


Algumas coisas são simplesmente indiscutíveis, dignas de unanimidade. Uma delas é o talento natural que Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime) possui na arte da atuação. A atriz é uma referência, principalmente nos papéis dramáticos que já interpretou no cinema, no teatro e na televisão. Porém, nesta última mídia, muitos sequer conhecem ou ouviram falar sobre a minissérie produzida pela HBO, que lhe rendeu diversos prêmios e que merece mais lembranças: estou falando de Olive Kitteridge.

A obra ganhou notória repercussão em forma de livro, escrito pela autora Elizabeth Strout. O reconhecimento foi tanto que Strout venceu o prêmio Pulitzer de ficção no ano de 2009. O fato não passou despercebido por Frances, que leu o livro e comprou os direitos do mesmo para produzi-lo. A HBO, depois de anos, abraçou o projeto, que foi finalizado em formato de minissérie para a TV, dividido em quatro episódios que somam, aproximadamente, quatro horas. O resultado disso tudo foi a produção fazendo a limpa no Emmy de 2015, vencendo 8 das 13 categorias em que foi indicada.

Os quatro episódios da história de Olive Kitteridge (Frances McDormand) se passam em um período de 25 anos, desde a época em que a mulher era professora de matemática até sua velhice. Além dela, também conhecemos seu marido Henry (Richard Jenkins) e seu filho Christopher (Devin Druid, na infância; e John Gallagher Jr., quando adulto), entre outros personagens secundários que são essenciais para entendermos a dinâmica de uma população que vive numa cidade bucólica do Maine, EUA.

Foto: HBO

Em meio a tantas pessoas, está Olive. A personagem principal é, sem dúvida, a mais complexa de toda a trama. Com um passado marcado pelo suicídio do pai, a mulher tem plena ciência de que possui depressão, a qual é notória na forma como cria barreiras intransponíveis com aqueles próximos a ela. A protagonista também é conhecida por ser extremamente crítica e ter um temperamento difícil, o que é um grande desafio no convívio com o filho e com o marido. Henry é exatamente o oposto da esposa, visto que todos o adoram e apreciam sua gentileza e bondade, sendo também muito carinhoso com a mulher, que sempre o afasta. O filho também não foge das observações ácidas de Olive, sofrendo desde cedo com o fato de nunca conseguir se aproximar da mãe.

A depressão e a dor são elementos constantemente evidenciados na história, seja no convívio dos Kitteridge ou nos demais personagens que conhecemos. Esse fator deixa o tom da minissérie pesado e por vezes doloroso, por presenciarmos de forma tão crua o quão complicados são os sentimentos e as relações humanas. O roteiro de Jane Anderson (Mad Men) beira à perfeição ao tratar de temas tão complicados com enorme cuidado, encontrando o devido equilíbrio ao fugir do clichê e da superficialidade.

Ao longo dos quatro episódios vamos descobrindo mais características importantes sobre as personalidades dessas pessoas, principalmente de Olive. Apesar do pessimismo que permeia sua vida, a mulher mostra a bondade que muitas vezes fica escondida pela dureza da rotina em situações determinantes. Enquanto não consegue desenvolver as relações dentro de casa com mais afeto, ela ao menos é capaz de direcionar alguma luz na vida de outros que também estão sofrendo, mesmo que de forma dura e pouco sensível de sua personalidade. Porém, conforme os anos ficam para trás, a solidão é o único resultado possível para a personagem, e a reta final não nos poupa de momentos emocionantes.

Foto: HBO

A parte técnica da minissérie também merece destaque, pois é extremamente eficiente em construir o ambiente que reflete a melancolia dos habitantes daquela cidade, com uma paleta de cores fria e uma trilha sonora discreta, mas inesquecível. Lisa Chodolenko (Minhas Mães e Meu Pai), responsável pela direção de todos os episódios, tem a sensibilidade necessária para valorizar a carga dramática da história.

Olive Kitteridge é uma dessas preciosidades produzidas para a televisão, e ainda bem que tivemos a sorte em ter a história estendida para muito mais do que duas horas de filme. Funciona como um exemplar, tanto para estudo de personagem quanto para assuntos pouco aprofundados e debatidos, como os diferentes impactos da depressão e as dificuldades das relações familiares.. Obrigada, Frances.

Excelente

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