CRÍTICA | Escape Room

Direção: Adam Robitel
Roteiro: Bragi F. Schut e Maria Melnik
Elenco: Taylor Russell, Logan Miller, Jay Ellis, Tyler Labine, Deborah Ann Woll, entre outros
Origem: África do Sul / EUA
Ano: 2019


Os últimos anos têm deixado evidente o potencial latente do terror para investigar novos recursos, novas temáticas, destinos inusitados para uma trama cinematográfica. Isso se dá por diversos detalhes: geralmente são filmes de baixo orçamento, com menores riscos de mercado, rompem a ideia contratual de que a obra tem de ser apregoada à realidade estrutural ou que o final deve trazer uma recompensa aos protagonistas. Sua própria estrutura permite ao espectador de antemão abandonar esses preceitos em função de experiências mais imediatas como o medo e a tensão. Costumamos abdicar da lógica em certos pontos, com o objetivo de se entregar a sensações. Uma pena, entretanto, que essas possibilidades sejam vastamente mal aproveitadas, mesmo quando temos boas premissas e mecanismos.

O thriller Escape Room apresenta um grupo de seis personagens (dos quais claramente só três realmente importam, até pela prioridade dada em tela) que são convidados a participar de uma disputa de "salas de fuga", um esquema de ambientes imersivos em que é preciso decodificar pistas espalhadas pelo local para conseguir escapar. O ponto de virada do filme é que essas salas também oferecem perigos rapidamente provados como letais.

A ideia é efetiva, a motivação dos personagens convence, mesmo que abandonem esta ideia quando percebem o que está em jogo. Os ambientes carregam em sua montagem detalhes que se referem ao passado dos protagonistas, o que vamos descobrindo por meio de lampejos de flashback que não entregam mais do que o estritamente necessário. Um recurso que poderia ser muito mais interessante se não fossemos acometidos logo em seguida por diálogos expositivos onde explicam detalhadamente cada situação ocorrida em tela.

Foto: Sony Pictures

O primeiro ato interessa e evoca um crescendo firme da sensação de perigo. Talvez também pela ideia, que exige dos participantes intelecto e não aptidões físicas extraordinárias (que é mais corriqueiro de se ver). Infelizmente o decorrer do longa desce ladeira abaixo.

Como as mortes ocorridas até certo ponto são ambíguas, suscita a impressão de que ainda é possível ser tudo um engodo, o que poderia ser admitido pela obra como um conflito, mas as respostas dos envolvidos aos acontecimentos eliminam esse cenário. Uma série de conclusões irrompem de lugar nenhum, sem qualquer pista prévia, e Escape Room desemboca em uma mistura grosseira dos discursos de Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012) e Jogos Mortais (Saw, 2004) - fora todas as ideias que deliberadamente pega deste último -, uma série de confrontos sequenciais tão apressados ao ponto de que, quando o espectador entende o que está em jogo, já estamos na fase seguinte.

O que torna a produção efetiva são suas dinâmicas criativas com o espaço, inclusive quando se permite a inverossimilhança e os absurdos dos cacoetes de personagens dando respostas que traçam o caráter bidimensional de suas personalidades (apesar de alguns estereótipos passarem do ponto como o personagem de Jay Ellis), como elementos dispostos em um quadro. Apesar dos divertidos engenhos elaborados até então, o filme acredita nesse ilusório dever de salvar seus protagonistas apenas para condená-los em seguida com a inevitabilidade (vide finais da franquia Premonição), o que a princípio deveria ser satisfatório, já que Taylor Russell (Perdidos no Espaço) e Logan Miller (Com Amor, Simon) são bons o bastante para que haja um mínimo de investimento emocional, mas termina como uma brincadeira sádica sem nenhuma funcionalidade.

Foto: Sony Pictures

Essa incerteza sobre seus próprios rumos drena de Escape Room toda a potência que inclusive oferece no início para se tornar mais uma frustrante versão placebo do subgênero de filmes de encarceramento. Apesar do roteiro frágil e estrutura geral inconsistente, a tensão é bem orquestrada pela direção de Adam Robitel (Sobrenatural: A Última Chave) e garantida para espectadores em busca de uma experiência simples e instantânea.


Regular

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