CRÍTICA | Um Lindo Dia na Vizinhança


Direção: Marielle Heller
Roteiro: Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster
Elenco: Tom Hanks, Matthew Rhys, Chris Cooper, Susan Kelechi Watson, entre outros
Origem: EUA/China
Ano: 2019



Empatia e respeito ao próximo têm se mostrado sentimentos cada vez mais raros na atualidade. Muito disso passa pela forma como o mundo é encarado e como os problemas são administrados por cada um de nós. Quem sabia muito bem disso era o saudoso apresentador Fred Rogers, que, com seu jeito simples e simpático, comandou o programa televisivo "Mister Rogers' Neighborhood" por pouco mais de três décadas, se tornando figura marcante na infância de muitos norte-americanos. Um Lindo Dia na Vizinhança (A Beautiful Day in the Neighborhood) se propõe a contar um pouco de sua história, mais precisamente em um período do ano de 1998.

No centro da trama está o jornalista ranzinza Lloyd Vogel (Matthew Rhys), que passa por sérios problemas de relacionamento com o pai, Jerry (Chris Cooper). Ele acaba de ser pai, mas não consegue tempo para ficar com o filho e a esposa, Andrea (Susan Kelechi Watson). Como contratado da revista Esquire, ele acaba designado para entrevistar Fred Rogers (Tom Hanks), tendo que escrever um artigo sobre figuras tidas pela sociedade norte-americana como heróis. Após encontros e conversas com Rogers, o protagonista passar ter outra percepção sobre sua vida.

Um Lindo Dia na Vizinha chama a atenção por conseguir reconstruir o universo pueril do programa de Rogers, retratando com perfeição suas maquetes e marionetes, que muitas vezes eram manipuladas pelo próprio apresentador. Mérito da direção de Marielle Heller (Poderia Me Perdoar?). Sua obra, no entanto, nos permite ir além, trazendo uma visão dos bastidores da atração, transformando câmeras, diretores e produtores em coadjuvantes de sua narrativa.

Foto: Sony Pictures

Os arcos dramáticos dos dois personagens centrais são devidamente amarrados, com o jornalista sendo representado como alguém que sofre em decorrência das escolhas que fez na vida, enquanto Rogers parece sua antítese, cuidando da alimentação, do físico e da relação com sua família. O ponto de virada do roteiro está justamente na primeira entrevista, quando o entrevistado se vê interessado na vida do entrevistador. As respostas vêm gradualmente, para ambas as partes.

A serenidade e pureza de espírito de Rogers são representadas com maestria por Tom Hanks (The Post: A Guerra Secreta), que parece ter nascido para o papel, seja no carisma absurdo ou na atenção aos detalhes e maneirismos do apresentador. Mesmo que o longa não tenha a pretensão de explicar o motivo daquele homem ser tão cultuado, já que entende que todo norte-americano sabe quem ele é, a interpretação de Hanks preenche qualquer lacuna ao espectador leigo.

Matthew Rhys (O Relatório), por sua vez, entrega o que é esperado de um protagonista em desconstrução, mas é prejudicado pela falta de profundidade do roteiro, que poderia ter explorado outras camadas da personalidade do jornalista. Por outro lado, sempre que o personagem se encontra com Rogers a química dos atores é evidenciada, diminuindo o impacto da falta de "substância" do texto.

Com boa didática e alguns bons momentos, Um Lindo Dia na Vizinhança é um entretenimento honesto. Diverte e emociona o público na medida certa, mesmo que não se proponha a ir além.

Foto: Sony Pictures

Bom

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