CRÍTICA | Sonic: O Filme

Direção: Jeff Fowler
Roteiro: Patrick Casey e Josh Miller
Elenco: Jim Carrey, Ben Schwartz, James Marsden, entre outros
Origem: EUA/Japão/Canadá
Ano: 2020


A empreitada do trem desgovernado da nostalgia que tem retroalimentado diversos estúdios nos últimos anos alcançou uma nova escala invadindo o universo dos videogames. Aliando apelo da referência pop com o fetiche do realismo, chegamos a resultados interessantes com Detetive Pikachu (2019) e agora Sonic: O Filme (Sonic the Hedgehog). 

O filme produzido e distribuído pela Paramount Pictures se tornou uma saga dramática do início ao fim. Quando seu trailer veio a público na metade de 2019, a repercussão negativa ao design de personagem do ouriço azul conseguiu unir em uma só causa os saudosistas do século passado - com muita pouca tolerância para qualquer transformação de seus afetos - com... bem, todo mundo. A proposta super realista não funcionou em nada e a inundação de reclamações na internet nos levou a um precedente curioso do poder de influência das redes sociais em um projeto cinematográfico poucos meses antes da estreia programada.

Voltando para as mesas de edição com um prazo um pouco estendido, também foi possível se deparar uma recorrente discussão na indústria hollywoodiana sobre artistas de efeitos especiais e o pouco respeito que a categoria goza. Seja em 2013, com a equipe envolvida na produção de As Aventuras de Pi (2012) tendo seu estúdio de efeitos indo à falência (apesar de ter ganho o Oscar); seja na própria cerimônia da Academia em 2020, quando a Sociedade de Efeitos Especiais emite uma carta se opondo a desfaçatez de um segmento onde os atores Rebel Wilson (Jojo Rabbit) e James Corden (Yesterday) entregam um troféu alfinetando os efeitos de Cats (2019). Na própria declaração, dizem que os melhores efeitos visuais do mundo não compensam uma história mal contada. 

Foto: Paramount Pictures

São muito preciosos esses lembretes para nos recordar sempre de problemáticas que passam despercebidas nesses processos criativos, e pouco são endereçados sobre suas responsabilidades: os executivos por trás. Pense que antes de o molde do Sonic começar a ser montado passaram-se meses elaborando seu design e aprovando-o. A ideia passou por muita gente até botar os artistas de efeitos especiais na labuta. Infelizmente isso não impediu algumas filiais de estúdios de VFX de fecharem as portas, como é o caso da MPC Film em Vancouver.

De fato os resultados se mostram positivos, pois a nova apresentação de Sonic é muito mais interessada em como seus traços decodificam o personagem e apresentam-no do que replicarem uma possibilidade realística e grotesca. O protagonista animado é cativante e a boa dublagem de Ben Schwartz (Parks and Recreation) dá os timings cômicos certos e uma ótima carga de animação. Mas o filme parece inquestionavelmente querer brecar seus próprios caminhos.

Existem muitos conflitos acontecendo em tela entre elementos que querem produzir originalidade. Toda a presença e gag visual de Jim Carrey (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças) como Dr. Robotnik, por exemplo. Fora as margens de segurança sempre resguardando o material de ser algo além do mínimo razoável e básico. Quando parece que o roteiro vai finalmente dar uma guinada para algo inesperado o espectador tropeça vergonhosamente se tiver sido ingênuo o bastante de cultivar tamanha esperança. Um breve suspiro e já estamos de volta a uma narrativa tão "qualquer coisa" que exige demais da minha criatividade compor mais descrições. 

Narrações intrusivas e absolutamente desnecessárias, um lore chinfrim e pouco convincente, piadas óbvias - ao ponto de cansar ter que passar por elas durante o longa - como se não já tivéssemos feito esse mesmo trajeto igualzinho em 300 outros filmes. A presença de James Mardsen (Westworld) passa despercebida, apesar da hilária coincidência de sua recorrência em papéis que demandam diálogo com animais animados - como em Encantada (2007) ou Hop: Rebelde Sem Páscoa (2011) - mas não dá pra responsabilizá-lo por um roteiro escrito por algoritmos e uma direção ausente.

Foto: Paramount Pictures

Apesar de tudo, Sonic: O Filme ainda tem a ousadia de deixar um gancho descarado para  uma vindoura continuação, o que, devo admitir, requer uma coragem bem convicta. Sendo franco, ao fim da sessão não chega a ser um longa-metragem de todo ruim, mas perde muitas oportunidades de se tornar uma comédia bacaninha.

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