CRÍTICA | Hook: A Volta do Capitão Gancho

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: James V. Hart e Malia Scotch Marmo
Elenco: Robin Williams, Dustin Hoffman, Julia Roberts, Bob Hoskins, Maggie Smith, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1991



Muito antes da onda de refilmagens em live action das animações clássicas da Disney, Steven Spielberg (Indiana Jones e a Última Cruzada) surpreendia o público com seu Hook: A Volta do Capitão Gancho (Hook), lançado em 1991. Tudo bem, eu sei que o filme não é do estúdio do Mickey Mouse e nem mesmo é um remake, mas vocês entenderam o que eu quis dizer.

Aliás, o fato do longa-metragem não ser uma refilmagem é seu grande diferencial. Spielberg e os roteiristas James V. Hart (Drácula de Bram Stoker) e Malia Scotch Marmo (Madeline) apostam no conhecimento coletivo da peça original de J.M. Barrie e propõem uma sequência direta daquela história, algumas décadas após os eventos de Peter Pan. Nesse ponto, a ligação indireta com a animação Disney acaba sendo um ganho e tanto para os realizadores.

Na trama, Peter (Robin Williams) deixou a Terra do Nunca há muitos anos após se apaixonar pela filha de Wendy (Maggie Smith). Optou por envelhecer ao lado da amada e ter uma vida comum, porém, com o passar dos anos, as memórias do que viveu foram se apagando e dando lugar apenas a rotina dos negócios que gerencia. Em uma determinada noite, seus filhos acabam raptados pelo Capitão Gancho (Dustin Hoffman) e Peter recebe a visita de uma velha amiga, Sininho (Julia Roberts), que o leva até aquela terra mágica novamente na busca pelas crianças.

Foto: Amblin Entertainment

A rigor, Hook apresenta a trama manjada do homem de negócios que negligencia a família e passa por uma experiência transformadora que o faz mudar de atitude dali em diante. O diferencial está no fato do homem ser o Peter Pan, o que traz um charme todo especial a obra.

É nos pequenos detalhes que Spielberg reverencia a mitologia do personagem e encanta o espectador. Como quando filma a sombra de Robin Williams (Insônia) em momentos de pouca inspiração do protagonista, fazendo com que o público invariavelmente torça para vê-la tomando vida. Ou mesmo quando opta por rodar todas as cenas em estúdio, emulando a sensação de assistirmos uma peça de teatro filmada. E nesse ponto devo destacar o belo trabalho de design de produção que, mesmo com todo capricho, nunca deixa tudo verossimilhante o suficiente. Há sempre espaço para a fantasia.

Soma-se a isso a trilha sonora pontual de John Williams (Império do Sol), que sabe brilhar nos momentos certos. E aqui devo mencionar a cena em que um dos Garotos Perdidos enfim reconhece Peter naquele corpo adulto, tocando-lhe o rosto e olhando-o nos olhos. Ali vemos mágica acontecer. É meu trecho favorito do filme, que acaba nunca superado pelo que se sucede.

Curiosamente, o ponto negativo de Hook está em seu estelar elenco, que parece preso em diálogos pouco inspirados, sem conseguir se sobressair. Dustin Hoffman (Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe) e Bob Hoskins (Uma Cilada Para Roger Rabbit) ainda vivem algumas cenas interessantes na divertida dinâmica entre Capitão Gancho e Smee, mas até Williams, reconhecido por sua improvisação e overacting (em certos momentos), pouco faz de diferente aqui.

Vale mencionar ainda uma jovem Julia Roberts (O Retorno de Ben), ainda em início de carreira, no papel de Sininho. Sempre carismática, mas com pouco tempo de tela.

Foto: Amblin Entertainment

No fim, apesar de sua premissa ousada e, até certo ponto, inovadora, Hook: A Volta do Capitão Gancho soa como uma chance desperdiçada. Jamais deixa de ser um bom filme, mas podia ir muito além com as peças que estavam em jogo. Bastava um tratamento melhor de roteiro, apostando também no entretenimento adulto, e teríamos uma obra atemporal para todas as idades.

Bom

Comentários