CRÍTICA | O Resgate do Soldado Ryan

Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Robert Rodat
Elenco: Tom Hanks, Tom Sizemore, Edward Burns, Barry Pepper, Adam Goldberg, Vin Diesel, Giovanni Ribisi, Jeremy Davies, Matt Damon, entre outros
Origem: EUA
Ano: 1998


A Segunda Guerra Mundial sempre foi um tema bastante explorado pelo cinema, muito pelo fascínio dos diretores em retratar a ação e o terror de um dos maiores conflitos da história da humanidade, bem como sua complexidade. Steven Spielberg (O Mundo Perdido: Jurassic Park) já havia demonstrado proximidade com o tema em filmes como Império do Sol (1987) e A Lista de Schindler (1993), muito em função de sua origem judaica. Em 1998, brindou o público com um novo clássico sobre o assunto: O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan).

Baseado na história real do soldado Frederick "Fritz" Niland, o roteiro de Robert Rodat (O Patriota) mostra a invasão do Dia D na visão de um esquadrão de soldados liderado pelo capitão John Miller (Tom Hanks). Após o conflito nas praias da Normandia (região hoje histórica do noroeste da França), eles são designados a encontrar o soldado James Ryan (Matt Damon) e devolvê-lo à sua mãe nos Estados Unidos, tendo em vista que ela já havia perdido outros três filhos para a guerra.

Spielberg cria um épico de guerra como poucos diretores conseguiriam, fazendo uma mescla perfeita entre a visceralidade das batalhas, imersas em horror, com o drama humano dos soldados. Dentro dessa proposta, a primeira meia hora da produção é dedicada ao desembarque na praia de Omaha, onde o cineasta mergulha o espectador na experiência aterradora que é a guerra.

O caos em tela, com soldados tentando sobreviver em meio a tiros e explosões ininterruptas, com corpos sendo dilacerados por todos os lados, é uma das sequências mais impressionantes e bem dirigidas da história do cinema. Não a toa Spielberg acabou sendo premiado com o Oscar de melhor direção no ano seguinte.

Foto: Paramount Pictures

Após a batalha extenuante (para os personagens e para o espectador) o Capitão Miller receber a missão de encontrar o soldado Ryan, reunindo um distinto grupo de soldados para tal: Horvath (Tim Sizemore), Reiben (Edward Burns), Jackson (Barry Pepper), Mellish (Adam Goldberg), Caparzo (Vin Diesel), Upham (Jeremy Davies) e Wade (Giovanni Ribisi). Personagens cujos dramas acompanhamos até o fim da projeção.

De forma nada glamourizada, o filme analisa a natureza da violência e explora a humanidade dentro dos soldados, visto que não são apenas máquinas de matar. Temas como a ética na humanidade são debatidos, já que a lógica da missão é contestada pelos personagens. Do ponto de vista humano, resgatar um soldado para envia-lo de volta para sua mãe que já perdeu outros três filhos é louvável. No entanto, arriscar a vida de oito homens para cumprir tal missão é justificável?

Tom Hanks (Prenda-me Se For Capaz), na primeira de várias contribuições com Spielberg, se mostra perfeito como capitão Miller. Trata-se de uma de suas atuações mais marcantes, já que o ator consegue demonstrar toda a dor e peso que carrega ao arriscar a sua vida e a daqueles homens, mas também a garra em querer cumprir a missão e sobreviver. O protagonista não é um super-herói, muito pelo contrário. É tão humano quanto qualquer homem, motivado pela necessidade de proteger todos em seu comando e cumprir o seu dever.

“Sinto tristeza sincera pela mãe do soldado James Ryan e estou disposto a dar a minha vida e a vida de meus homens – especialmente você, Reiben – para aliviar seu sofrimento.”

Foto: Paramount Pictures

O restante do elenco também está muito bem, retratando personagens com características e pensamentos distintos, que geram reflexões importantes no público sobre até que ponto uma guerra pode fazer alguém chegar chegar. Isso, por si só, diferencia a produção de diversas outras obras que focam muito mais na ação da guerra, em detrimento dos dramas pessoais daqueles que vemos em tela.

Além da já destacada direção de Spielberg, é preciso mencionar a cinematografia de Janusz Kaminski (The Post: A Guerra Secreta), que ressalta os tons de cinza na imagem e, por vezes, "estoura" o branco do céu, quase fazendo parecer que os personagens estão dentro de um pesadelo. Soma-se a isso o excepcional trabalho de design de produção de Tom Sanders (Drácula de Bram Stoker) que choca pela realidade do cenário de destruição em meio a locações europeias que trazem extrema verossimilhança a narrativa.

John Williams (Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida), por sua vez, nunca pesa a mão na trilha sonora, pelo contrário, já que opta pelo silêncio em boa parte do filme, dando o tom de realidade que a obra precisa. Quando aparece, o compositor emociona e traz a melancolia necessária ao espectador.

O Resgate do Soldado Ryan é, de fato, um dos filmes mais impressionantes sobre a Segunda Guerra Mundial. Steven Spielberg entrega um épico angustiante sobre a luta para se manter a decência diante de um cenário de caos, equilibrando perfeitamente a frieza da guerra com a busca pela humanidade de seus personagens. Uma experiência cinematográfica devastadora e essencial.

Excelente

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