CRÍTICA | A Verdadeira História de Ned Kelly

Direção: Justin Kurzel
Roteiro: Shaun Grant
Elenco: George MacKay, Essie Davis, Charlie Hunnam, Nicholas Hoult, Russell Crowe, entre outros
Origem: Austrália / Reino Unido / França
Ano: 2019



A Verdadeira História de Ned Kelly (True History of the Kelly Gang) é o 4º longa-metragem dirigido por Justin Kurzel (Macbeth: Ambição e Guerra), cujo roteiro de Shaun Grant (A Síndrome de Berlin) é uma adaptação do livro "A História do Bando de Kelly’, escrito por Peter Carey. Um filme que busca desmistificar a imagem de uma das personalidades mais marcantes da história da Austrália, o ladrão e assassino Ned Kelly (George MacKay).

Em suas biografias ou em artigos escritos sobre a sua pessoa, Ned Kelly é citado como um homem marcado por desafiar as autoridades coloniais da época. Apesar dessa relação estar presente na narrativa, a produção parece estar mais preocupada em abordar uma faceta mais humanizada dessa personalidade e, para isso, faz com que a trama gire em torno de suas memórias afetivas na infância, bem como a relação com sua mãe, Ellen Kelly (Essie Davis).

Apesar do trailer vender uma história regada a humor sarcástico e um ritmo entusiástico, ao longo dos 124 minutos de exibição o resultado é totalmente oposto. Toda a essência melodramática que A Verdadeira História de Ned Kelly passa ao espectador soa exagerada em momentos que poderiam ser tocantes, fossem eles conduzidos de forma mais cuidadosa. Acaba, portanto, não convencendo ou comovendo o público como poderia.

Isso ocorre muito em função do fato do roteiro não seguir uma linha do tempo coesa, fazendo com que a montagem da obra soe mal planejada, com acontecimentos sendo apresentados a esmo, sem sentirmos a construção de uma mensagem propriamente dita. Em vez de partir do ponto A, se desenvolver no ponto B até chegarmos no ponto C, muitas cenas acabam se misturando sem contexto, com diálogos pouco inspirados e que tentam gerar alguma reflexão na audiência, sem muito sucesso.

A2 Filmes

Entendam, saltos temporais e uma montagem em quebra-cabeças é um recurso recorrente no cinema, muito comum nos filmes de Quentin Tarantino (Pulp Fiction: Tempo de Violência) ou Christopher Nolan (Dunkirk), por exemplo. Aqui soa mal utilizado e, portanto, falho em sua proposta.

Os personagens de Russell Crowe (Os Miseráveis) e Charlie Hunnam (Círculo de Fogo), que são importantes para que consigamos enxergar a essência humana de Ned Kelly, acrescentam muito pouco ao contexto. Ambos cumprem suas funções e apenas somem da trama, quase como participações especiais. O abandono de personagens sem o desenvolvimento devido, aliás, é algo feito com frequência pelo longa.

Há de se destacar George MacKay (1917), que entrega uma ótima atuação em sua versão de Ned Kelly. Uma interpretação comedida a princípio, mas que vai crescendo até encontrar sua catarse no desfecho. O ator é um dos mais promissores de sua geração, com potencial para entregar grandes trabalhos em um futuro próximo.

Completando o elenco vale mencionar um Nicholas Hoult (Mad Max: Estrada Fúria) cheio de cinismo e Essie Davis (O Babadook), que vive a mãe de Kelly de forma visceral.

No que diz respeito a aspectos técnicos, por mais que não apresentem diferenciais, o design de produção, o figurino e a cinematografia de Ari Wegner (Vestido Maldito), são belos, bem produzidos e cumprem sua função de ambientar o público no ano de 1854. Assim como a trilha sonora de Jed Kurzel (Operação Overlord) - irmão do diretor -, que com ares folclóricos compõe bem o enredo.

A2 Filmes

Ainda que Justin Kurzel tenha seus momentos na direção, o resultado final de A Verdadeira História de Ned Kelly deixa a desejar. Faltou saber utilizar melhor o tempo de tela disponível para sua obra, preocupando-se menos com cenas de transição que poderiam ser menores, e mais com o contexto de sua história, o desenvolvimento de personagens e a amarração de pontas soltas do roteiro.

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