CRÍTICA | Encanto

Direção: Jared Bush, Byron Howard e Charise Castro Smith
Roteiro: Jared Bush e Charise Castro Smith
Elenco: Stephanie Beatriz, John Leguizamo, Mauro Castillo, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2021 

Já está claro que tudo o que sai da cabeça e das mãos brilhantes de Lin-Manuel Miranda (tick, tick... BOOM!) vira um sucesso. E a mais nova animação da Disney, Encanto, não é diferente. Apesar dos altos e baixos nos últimos anos, o estúdio chega ao seu 60º filme aproveitando o embalo da volta aos cinemas e a abordagem de novas culturas, entregando um longa sobre relações familiares, que não só homenageia a cultura latina, como também transcende uma universalidade que se aplica a famílias de qualquer cultura.

Mirando no público infantil, a animação - da mesma equipe criativa de Moana: Um Mar de Aventuras (2016) e Zootopia (2016) - explora em uma narrativa divertida a riquíssima cultura colombiana, na qual a identidade e a diversidade são os pilares centrais. Ao mesmo tempo, também apresenta um musical com belíssimas composições de Lin-Manuel, fazendo jus ao título da obra.

Encanto apresenta a história da família Madrigal, que vive nas montanhas da Colômbia em uma casa mágica e colorida, carinhosamente chamada de Casita, em um lugar fantástico e vibrante chamado Encanto. Após uma grande tragédia familiar, os Madrigal foram abençoados por um milagre, no qual os filhos e netos da avó, Alma (María Cecilia Botero), possuem dons especiais para serem usados para ajudar a fortalecer e servir a vila.

Todas as crianças Madrigal ganham um dom mágico quando completam 5 anos, como: poder de cura, super força, controle do tempo, das flores e dos animais. Todos os membros exceto um, Mirabel (Stephanie Beatriz), uma menina comum que quer se provar para a família, mesmo não tendo poderes.

Um dia, ela descobre que a magia de Encanto está enfraquecendo e, buscando se provar, decide agir sozinha como a última esperança da família, partindo em uma missão para encontrar a raiz do problema e achar uma solução.

Walt Disney Animation Studios

Assim como em Soul (2020), uma história sobre as escolhas da vida; e Raya e o Último Dragão (2021), que apresenta a união de diversos povos em prol de um bem comum; é de costume as animações da Disney (e sua "irmã" Pixar) possuírem uma trama que parece superficial, mas que acabam se aprofundando em temas sensíveis, inclusive para os adultos. Em Encanto, o tema predominante são as relações familiares e o quanto conhecemos realmente as pessoas próximas a nós.

Um grande acerto da narrativa é focar nas relações e características de cada membro da família Madrigal. A força dessa história, assim como em Viva: A Vida é Uma Festa (2017), vem da ideia de família. Não há a necessidade, por exemplo, de um vilão tangível, pois concentra-se, em sua essência, nas pressões de viver de acordo com expectativas irreais e ideais familiares. A história tem enfoque não só na magia da casa, mas também como cada um é afetado perante ela. E apesar de Mirabel ser a grande protagonista, seus irmãos, pais e tios possuem tempo de tela sifnificativo, todos com personalidade e carisma.

Ao ser uma pessoa sem um dom mágico dentro dessa família considerada perfeita, Mirabel se sente deslocada e menos importante. Essa atitude a faz acreditar que a vida de seus irmãos e primos são perfeitas. Dessa forma, acaba não enxergando que cada um deles passa por suas próprias batalhas e pressões externas. Luisa (Jessica Darrow), por exemplo, tem o poder de super força, mas também tem vulnerabilidade e uma feminilidade que precisa “esconder”, pois toda a sua família e toda a vila se apoiam nela. Já Isabela (Diane Guerrero) possui o título de perfeita da família, portanto não pode cometer deslizes e deve cumprir as expectativas dos outros. Assim, Mirabel percebe que a magia também abala seus familiares, mas de formas diferentes.

O roteiro, escrito por Jared Bush (Zootopia) e Charise Castro Smith, mostra que os Madrigais são uma família como outra qualquer, com conflitos, pressões sociais, é claro, mas com expectativas para como eles devem viver. Nenhuma família é perfeita, com super poderes ou não, mas a forma tocante que a animação aborda a temática, bem como a aceitação do que você é, traz identificação a todos os espectadores.

Em um mundo repleto de cor, Mirabel é incrivelmente simpática e divertida, dublada originalmente por Stephanie Beatriz (Brooklyn 99). Porém, um dos personagens mais cativantes do filme é o Tio Bruno, dublado por John Leguizamo (O Pagamento Final). Um personagem complexo, com muito em comum com Mirabel, um coração surpreendentemente grande e que você gosta instantaneamente. Inclusive, fica a dica de assistir ao filme em seu idioma original, para se ter uma experiência melhor da cultura latina e das músicas originais de Lin-Manuel Miranda.

Walt Disney Animation Studios

É necessário ressaltar aqui a diversidade presente em Encanto, que é o segundo filme da Disney a ter um título originalmente estrangeiro, ficando atrás apenas do curta-metragem Alô, Amigos (1942) e o quarto filme a explorar a cultura latino-americana, junto com Você Já Foi à Bahia? (1944), A Nova Onda do Imperador (2000) e o curta já citado.

Nos últimos anos, o estúdio se afastou de narrativas estereotipadas de princesas para se concentrar em histórias e personagens que refletem melhor o mundo ao nosso redor. Hoje, temos Moana, Raya e agora Mirabel, que representam melhor um espelho da sociedade, sendo esta última, inclusive, a primeira protagonista da Disney que usa óculos.

Além disso, uma das melhores coisas que Encanto faz é retratar uma família latina que encarna autenticamente essa experiência, sendo repleta de todos os tons de pele e diferentes corpos. Soma-se a isso a ótima trilha sonora, de ritmo intenso e apaixonante, com músicas cativantes e memoráveis que certamente serão abraçadas pelo grande público.

Encanto é aquele tipo de animação apaixonante, que transmite uma experiência deliciosa de se assistir. O combo personagens carismáticos de personalidades tão humanas e tão relacionáveis, com músicas cativantes e uma forte mensagem sobre autoconhecimento e empatia é a fórmula de sucesso para conquistar o público. Uma animação realmente encantadora do começo ao fim, trazendo uma história familiar repleta de doçura e espontaneidade.

Ótimo


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