CRÍTICA | I Wanna Dance with Somebody: A História de Whitney Houston

Direção: Kasi Lemmons
Roteiro: Anthony McCarten
Elenco: Naomi Ackie, Stanley Tucci, Ashton Sanders, Tamara Tunie, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2022

Whitney Houston (O Guarda-Costas) é um nome que comporta dentro de si a promessa de imensos espetáculos que em sua carreira lhe angariaram o título de "A Voz", como a cinebiografia da cantora faz questão de nos lembrar ao final. Até hoje, é a cantora mais premiada da história, com uma lista extensa de recordes estratosféricos. Com um currículo imbatível, é natural esperar de um filme que celebra a artista, um nível elevado de atenção e execução, suficientes para ao menos lembrar ao espectador de como Whitney estava além de muitas fórmulas. Infelizmente, não é o que se testemunha em I Wanna Dance with Somebody: A História de Whitney Houston (Whitney Houston: I Wanna Dance with Somebody), dirigido por Kasi Lemmons (Harriet).

O roteiro certamente encabeça o topo da lista de problemas. Escrito por Anthony McCarten (um dos roteiristas de Bohemian Raphsody, o que já é um alerta), não há no texto o menor vislumbre  de uma tentativa de compor uma personagem real para a Whitney incorporada por Naomi Ackie (Master of None). A obra é como um "passadão" de checkpoints breves da carreira da cantora, apressado demais, correndo com a cronologia de eventos para oferecer oportunidade a qualquer cena de respirar.

Esse modelo opera como uma força avessa ao próprio longa, diluindo a potência de suas melhores imagens, seja pela velocidade opressiva, seja pela falta de vínculo emocional de tudo que vem e vai na vida da protagonista. Se ao início temos uma introdução agradável do afeto entre Whitney e sua parceira Robyn Crawford (Nafessa Williams), quase instantaneamente somos empurrados para uma cena onde ela tenta confrontar o pai sobre seu relacionamento e num piscar de olhos elas estão em outro momento rompendo o namoro, enquanto Whitney recita a bíblia pra condenar o próprio relacionamento lésbico. Essa linha de eventos ainda é das poucas dentro da produção que tem algo remotamente semelhante a um inicio, meio e fim. A maior parte do que vem em seguida são apenas consequências de cenas que não vemos, de problemas que só são ditos, não há antecipação para nada.

Sony Pictures

As elipses vão se tornando cada vez mais insensíveis, deixando Naomi Ackie perdida no vácuo, verbalizando pontualmente seu conflito sobre ser quem os outros querem que ela seja ou quem ela é de fato. O problema é que não sabemos quem ela é, o que ela quer, o que aspira. O início do filme lembra de maneira humorada um fato pouco lembrado, de que Whitney é uma espécie de "Nepobaby", nos deixando a impressão de que a escolha pela música vem de uma relação de expectativas com a rígida mãe, mas a familiar logo some da narrativa para que o problema se articule então com o pai parasitando as finanças e carreira da filha famosa. "Princesa" é uma palavra chave atribuída a Whitney pelos outros ou para si mesma para identificar o conflito principal de identidade, que é o quanto ela se aproxima ou se distancia desse ideal durante a jornada.

Quanto mais a obra se movimenta, mais parece não sair do lugar, tanto porque é fácil demais se perder na sequência de eventos, tanto porque as relações dos personagens nunca parecem progredir ou se transformar até o final. O longa se satisfaz com alguns diálogos simplórios e frases de efeito para concluir relações entre as pessoas, nada que tome tempo demais da cena antes que a próxima música venha com a melhor tentativa de sincronia labial da atriz.

I Wanna Dance with Somebody: A História de Whitney Houston tem o mesmo template de cinebiografias que você já assistiu, e a essa altura está ficando meio constrangedor para as produtoras repetir incansavelmente a mesma fórmula como se ninguém fosse reparar. Ainda mais quando a recente sátira Weird: The Al Yankovic Story (2022) já tirou sarro, de modo tão assertivo, dessa receita de bolo.

Sony Pictures

O que entristece é que há momentos de química saborosa, especialmente aqueles em que a protagonista interage com o personagem de Stanley Tucci (O Terminal). A diretora parece estar ciente desse poder, mas não basta. Ao final, por mais cartelas emocionadas que sejam introduzidas nos créditos, listando os feitos incríveis da cantora, não satisfazem os buracos deixados por tudo que o I Wanna Dance with Somebody não mostrou antes disso.


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