CRÍTICA | Jersey Boys: Em Busca da Música

Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Marshall Brickman e Rick Elice
Elenco: Vincent Piazza, John Lloyd Young, Johnny Cannizzaro, Christopher Walken, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2014

Clint Eastwood (J. Edgar) é como vinho, quanto mais velho, mais refinado. Me perdoem a expressão extremamente batida e clichê, mas ela encaixa-se com maestria aqui. Dono de uma filmografia invejável, de muitos acertos e pouquíssimos equívocos, com Jersey Boys: Em Busca da Música (Jersey Boys) o diretor entrega um de seus melhores trabalhos, certamente o mais memorável desde Gran Torino em 2008. E como é bom vê-lo aos 84 anos em plena forma cinematográfica e com muito gás pra queimar.

O drama, baseado na peça de teatro homônima, narra a trajetória real do músico Frankie Valli (John Lloyd Young) e o grupo The Four Seasons, que fez grande sucesso na década de 60. Acompanhamos o nascimento da banda, desde quando receberam apoio da máfia de New Jersey, até os tempos contemporâneos, passando pelo eventual declínio causado especialmente pelas dívidas adquiridas por um de seus integrantes mais controversos, Tommy DeVito (Vincent Piazza).

É nítida a influência das narrativas dos filmes de máfia de Martin Scorsese (Os Bons Companheiros, Cassino), quando os atores são os narradores da história, particularmente no primeiro ato da obra, quando a relação da banda com o crime organizado é mais latente. Além disso, Eastwood traz um elemento diferencial que é a quebra da quarta parede, fazendo com que os protagonistas/narradores se dirijam ao espectador de forma direta, olhando para a câmera, por vezes analisando suas atitudes em tom de orgulho ou, em grande parte, arrependimento. Essa escolha, aliás, nos proporciona um conclusão interessantíssima para o longa (que não revelarei aqui, claro).

A dinâmica estabelecida favorece o trabalho de Vincent Piazza (da série Boardwalk Empire), que brilha em tela como DeVito, numa interpretação que muita se assemelha ao jovem Robert De Niro (apostaria facilmente no ator como uma potencial revelação para os próximos anos). Aliás, o longa perde muito quando o mesmo não está em tela, ainda que John Lloyd Young dê conta do recado como Frankie Valli, muito em função de seu inegável talento musical. Todo o elenco canta muito bem durante a obra, mas Young, evidentemente se destaca como "a voz" do grupo, como fora Valli nos fatos.

Complementando o elenco com seu jeito típico de ser temos Christopher Walken (Amigos Inseparáveis), que funciona muito bem como Gyp DeCarlo, o chefe da máfia local. Há ainda um papel pequeno para o desconhecido Joseph Russo, interpretando um tal de Joe Pesci.

Há de se destacar ainda o trabalho de figurino e a direção de arte, que recria as décadas de forma convincente, especialmente através dos penteados dos atores. Além disso, Eastwood confere uma identidade visual bastante interessante ao filme, adotando tons de sépia costumeiros em sua filmografia, mas trazendo elementos na cor vermelha em quase todos os cenários e locações. Vermelho que é a cor do figurino mais memorável dos Four Seasons.

Contando ainda com uma empolgante trilha sonora (mesmo os mais novos conseguirão identificar uma ou outra música do grupo) e momentos de humor muito bem construídos (gosto particularmente da cena em que Bob Gaudio encontra inspiração para compor a canção "Big Girls Don't Cry"), é uma pena que Jersey Boys tenha sido lançado em tão poucas salas no Brasil. Disse antes e ratifico, é um dos melhores trabalhos de Clint Eastwood na direção, e isso não é pouca coisa.

Ótimo

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