Everything Sucks! | 1ª Temporada


Talvez seja porque, assim como os protagonistas, eu também me "descobri gente" nos anos 90. Ou, talvez porque a primeira referência que me veio à mente quando comecei a assisti-la foi umas das minhas séries preferidas, Freaks and Geeks. Não importa. Mesmo que falha, a verdade é que não resisti e assisti em um único dia a todos os episódio de Everything Sucks!

Criada por Ben York Jones (Loucamente Apaixonados) e Michael Mohan (This Is How You Die), a série narra as aventuras de dois grupos de amigos que estudam num mesmo colégio, na cidade de Boring (Tédio, em português), no estado norte-americano de Oregon. Considerados nerds e desajustados, os grupos, cujos membros pertencem ao clube de audiovisual e drama, decidem trabalhar juntos para produzir um filme. Afinal, já que não são e nunca farão parte do universo popular da escola, nada melhor que juntar forças para sobreviver à infame fase da adolescência. 

Uma das críticas a Everything Sucks! é que ela usa descaradamente a fórmula de Stranger Things, ou seja, nerds + nostalgia. Sim, é verdade. Porém, a produção vai além, buscando identificar-se também com outro público, o dos "desajustados". Embora a estória de Jones e Mohan apresente como personagens principais um trio de amigos - Luke (Jahi Di'Allo Winston), McQuaid (Rio Mangini) e Tyler (Quinn Liebling) - que se encanta com um novo elemento, a menina Kate (Peyton Kennedy), são as incertezas e descobertas da última, mais do que de qualquer um dos meninos, que interessa aqui. 

Foto: Scott Patrick Green / Netflix

Órfã de mãe, Kate vive sozinha com o pai, Ken (Patch Darragh), e apesar de terem uma ótima relação, ambos não se sentem à vontade para falar sobre os seus sentimentos. A questão fica ainda mais complicada quando a garota vê-se atraída por outras meninas. Sem ter com quem desabafar e com medo de decepcionar o pai, ela aceita namorar o amigo Luke, o qual, de fato, está apaixonado por ela. 

A trama de Kate só não é melhor devido à forma artificial com que Emaline (Sydney Sweeney) entra em cena. É natural que adolescentes mudem de ideia e queiram revolucionar suas vidas, mas as motivações da coadjuvante são rasas demais. Os roteiristas deveriam ter trabalhado melhor o desenvolvimento da personagem, para que suas mudanças e atitudes radicais fossem mais aceitas pelo espectador.

Porém, nem mesmo os problemas estruturais do arco dramático de Kate estragam a boa interpretação da jovem atriz. Aos 14 anos de idade, Peyton Kennedy (Grey's Anatomy) merece destaque pela maneira como encarna a insegura adolescente. Mesmo que a estória soe artificial em alguns momentos, a garota não vacila e é capaz de representar tanto a inocência quanto as angústias do primeiro amor.

Outra trama acertada em Everything Sucks! é o romance entre Ken e Sherry (Claudine Nako). Respectivamente o pai de Kate e a mãe de Luke. O casal protagoniza algumas das cenas mais engraçadas da série e o relacionamento deles serve como uma prova de que, em se tratando de amor, somos todos adolescentes. Não importa a experiência e a idade que tenhamos. Nunca é fácil e nem simples abrir-se para o outro.

Foto: Scott Patrick Green / Netflix

Diferente de outros sucessos da Netflix com temática semelhante, a série não é uma superprodução e apresenta os problemas de roteiro e construção de personagens que já citei anteriormente. No entanto, isso não significa que a série seja ruim. Os 20 minutos de cada episódio passam rapidamente e, quando menos esperamos, a temporada já terminou. Infelizmente a comparação com Freaks and Geeks é adequada até nisso. Nunca saberemos que fim levaram as personagens de Paul Feig (Caça-Fantasmas), assim como Jones e Mohan não terão oportunidade de escrever uma segunda temporada sobre os amigos de Boring.

Repleta de nostalgia, Everything Sucks! faz uma bela homenagem aos anos 90, ao mesmo tempo que retrata estórias sobre "desajustados", identidade e amadurecimento. 

Ótimo

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Lívia Campos de Menezes é apaixonada por filmes, séries e boa música (leia-se rock'n'roll). Adora ler e viajar. Mora em São Francisco (CA), onde trabalha como produtora de cinema independente.

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