CRÍTICA | Felicidade Por Um Fio

Direção: Haifaa Al-Mansour
Roteiro: Adam Brooks e Cee Marcellus
Elenco: Sanaa Lathan, Ricky Whittle, Lyriq Bent , entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


Para quem já se arriscou a dar algumas chances para as produções originais da Netflix, sabe bem que a gigante do streaming oscila bastante em termos de qualidade, e que aos poucos vem tentando se firmar como um novo veículo de produção cinematográfica. Felicidade Por Um Fio (Nappily Ever After) chega ao catálogo da plataforma dentro desse contexto, e tem causado impressões positivas nos espectadores, principalmente pelo tema atual e relevante.

A trama acompanha a vida da publicitária Violet (Sanaa Lathan), mulher negra que tem uma vida bem-sucedida, ao menos em um primeiro vislumbre de seu cotidiano. Aparentemente, tudo vai bem. Ela tem um namorado lindo, é requisitada em sua profissão, suas relações interpessoais são boas e ela é admirada por onde passa, por sua beleza física e seu cabelo impecável.

Apesar disso, a medida que conhecemos as preocupações do dia-a-dia de Violet, bem como os diálogos com suas amigas e mãe, percebemos que há algo de errado nessa aparente perfeição. Logo percebemos os traumas que a mulher carrega desde pequena. Sua criação maternal gerou efeitos colaterais em sua vida, e a protagonista passa diariamente por um ritual de cuidado com as madeixas, deixando de fazer inúmeras atividades para manter seu cabelo intacto. E assim segue, até perceber o quanto esse comportamento obsessivo é tóxico e prejudicial, distanciando-a de sua própria identidade.

Foto: Tina Rowden / Netflix

Logo a personagem se vê em situações que a farão questionar sua vida, algo fundamental para toda a jornada que virá pela frente – da transição capilar, que a leva por um caminho de autoconhecimento em diversos níveis; até a descoberta de novas perspectivas. O filme aproveita bem a percepção da padronização imposta ao consumidor pela publicidade, discutindo de forma sucinta sobre padrões de beleza, pautas repetitivas explorando a figura de homem e mulher em situações específicas, e até na divisão de trabalho dentro de uma empresa, o conhecido estereótipo de profissões.

O grande acerto de Felicidade Por Um Fio é, sem dúvida, a forma como a obra mistura a comédia com o drama da protagonista, sem tornar a trama piegas. A descoberta de identidade e os momentos de entrega de Violet são incríveis, muito por conta da simpatia que a personagem esbanja, fruto de um ótimo trabalho da atriz Sanaa Lathan (O Assassino: O Primeiro Alvo). Tanto a aceitação de sua natureza física quanto a empoderada descoberta que a personagem faz acerca dos caminhos que deseja seguir. Tudo é muito envolvente e emocionante.

Infelizmente, em alguns momentos, a premissa inicial fica ofuscada por escolhas que podem soar incoerentes com as atitudes da personagem durante seu processo de amadurecimento, mas que no fim acabam se encaixando na reta final. Há quem possa dizer que a utilização do tema é aplicada em um contexto menos complexo do que o vivenciado por meninas e meninos diariamente, e isso é um fato. A proposta do roteiro, no entanto, é válida e aproveitada de forma positiva, além de trazer visibilidade para a questão essencial da representatividade.

Foto: Tina Rowden / Netflix

Felicidade Por Um Fio conta ainda com uma trilha sonora cativante, que acompanha de forma pertinente e interessante as passagens da personagem, trazendo ótimos diálogos para reflexão. O que nos faz afirmar com tranquilidade que a se trata de um dos acertos da Netflix,


Ótimo

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