CRÍTICA | Hot Summer Nights

Direção: Elijah Bynum
Roteiro: Elijah Bynum
Elenco: Timothée Chalamet, Maika Monroe, Alex Roe, Thomas Jane, William Fichtner, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2017


O estúdio A24 já se tornou o absoluto queridinho das plateias jovens que buscam um conteúdo diferenciado da linguagem de mercado hegemônica, mas ainda não tão diferente ao ponto de ser agressivo com suas concepções de realidade. Ocorre que muitos filmes dessa produtora oferecem uma estética nostálgica, considerada libertadora para uma renovação de cinema autoral norte-americano "indie" (apesar do claro esgotamento desse adjetivo, ainda confere um selo com seu próprio apelo comercial). 

De qualquer forma o estúdio, que começou apenas no ofício da distribuição, tem arrecadado não só incontáveis premiações e um catálogo de peso como o mais inestimável: um público fiel. Essa é a construção mais valiosa para a manutenção de uma ampla variedade de projetos audiovisuais. É dentro deste processo que surge espaço para um longa-metragem como Hot Summer Nights, trazido ao espectador pelo cineasta etreante Elijah Bynum (One Dollar).

Perscrutando um caminho curiosamente inverso ao que conhecemos, a A24 tem se aberto para projetos muito menos ousados do que os que iniciaram sua trajetória (os controversos Spring Breakers: Garotas Perigosas e Bling Ring: A Gangue de Hollywood, por exemplo), além dos que verificam uma inspiração energética de métodos (como Sombras da Vida e Sob a Pele), com propostas mais sóbrias e comuns, mas nem por isso sólidas ou de sucesso garantido.

Foto: Divulgação

Lendo a sinopse de Hot Summer Nights, é inevitável a sensação palatável de já termos visto este filme algumas muitas vezes. Porque de fato o vimos. Nem um elenco jovem e estimulante encabeçados por Alex Roe (A 5ª Onda) e Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome) consegue dissuadir o espectador do fato de que o longa é só uma lembrança nostálgica de tantas outras obras com essa tradição de traficante do litoral, sem nada a acrescentar a essas memórias, nem mesmo uma homenagem.

Fortalece esta sensação o fato da produção ser narrada não por alguém que não participou dos eventos apresentados, mas observou de longe, sabia seus personagens, era muito jovem e apenas lhe restava admirar tudo que se desenrolava com cuidado e sonho. Ele viu o jovem assustado e sem dinâmica social rapidamente se converter em um galã ousado o bastante para confrontar cartéis locais de tráfico, enquanto cortejava a irmã proibida de seu parceiro. Existe um deleito próprio de uma fantasia masculina tão pueril quanto inconcebível, mas que a obra falha em alcançar, por mais belos frames que nos proporcionem.

E de fato, é um filme estéril, mas belo. De uma beleza quase suspeita ao espectador estrangeiro, particularmente o brasileiro. As fantasias praianas com drogas e festas em mansões, um amor de verão que será demolido pelas chuvas de agosto e os subúrbios nobres e alvejantes de Cape Cod já ocupam um lugar imaginário identificável para nós, mesmo antes de Vampire Weekend. E nosso verão nem é em julho, mas já nos basta essa manutenção cansada de palmeiras e Ferraris para sermos transportados para uma lembrança que não nos pertence culturalmente. Sua roda gigante desfocada encobrindo um pôr do sol furta-cor é estonteante, mas é importado.

Foto: Divulgação

Hot Summer Nights é um filme de evidências tão colonizantes, não podendo passar impune por arriscar retroalimentar sonhos abandonados de uma juventude que crescia mais com o filme norte-americano do que com seus próprios sons e cores. Sua falta de inventividade apresenta a obra como um projeto cinematográfico obsoleto de um devaneio do passado. Situá-lo historicamente dentro da narrativa não o protege de anacronismos. Feliz ou infelizmente, não vivemos mais nos litorais de Cape Cod, Massachusetts.

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