CRÍTICA | Nasce Uma Estrela

Direção: Bradley Cooper
Roteiro: Bradley Cooper, Eric Roth e Will Fetters
Elenco: Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliott, Dave Chappelle, entre outros
Origem: EUA
Ano: 2018


“Música é, essencialmente, 12 notas entre qualquer oitava – 12 notas e a oitava repete. É a mesma história sendo contada, para sempre. Tudo o que um artista pode oferecer ao mundo é como ele enxerga essas 12 notas.”

Uma das críticas feitas às produções cinematográficas de Hollywood ultimamente é que elas são “a mesma coisa de sempre”, e não trazem algo de original ao público. No entanto, essa citação de Nasce Uma Estrela (A Star is Born) mostra que é possível trazer originalidade em uma história que já foi contada antes. Basta que os envolvidos tenham potencial para explorar o valor da obra. Felizmente é o caso dessa nova versão.

Trata-se da quarta adaptação da mesma ideia, já filmada antes em três décadas diferentes (1937, 1954 e 1976), uma estrela musical em ascensão que cruza o caminho de outra, já em decadência. No entanto, a forma com que o diretor Bradley Cooper (O Lado Bom da Vida) escolhe contar essa história, fazendo uma reinterpretação da obra e trabalhando o estrelato dentro da indústria musical, é o que dá nova essência à narrativa. Trata-se da primeira vez que o ator assume a direção de um filme, e o comprometimento em entregar uma visão mais humana de um discurso já explorado antes é perceptível. A forma como encara a derrocada do astro é cheia de sensibilidade, mostrando competência e habilidade incomuns para alguém estreante na função.

Foto: Warner Bros Pictures

A adaptação moderna, além de estar situada na nova realidade da indústria da música, que se transformou completamente nas últimas décadas, é sentida pelo público na exorbitância. As sequências musicais são energéticas, o som grandioso, a montagem bem pensada e a fotografia vibrante. Além disso, a escalação da exuberante Lady Gaga (American Horror Story) como protagonista traz uma aura especial ao longa, tamanho o talento visto em tela, não apenas como cantora, mas também como atriz.

Cooper também atua aqui, dando vida a um personagem marcante com sua sensibilidade comovente. Fica evidente a importância que o ator dá a construção desse artista destruído, preocupando-se em explorar o presente e o passado do músico de maneira muito competente.

Falando da trama em detalhe, o roteiro conta a história do músico Jackson Maine (Cooper), uma estrela do rock com anos de estrada e de vícios, que conhece a garçonete Ally (Gaga) em um bar. Ela sonha em ser cantora e teme apresentar suas canções ao público. O encontro transforma a vida de ambos, pois enquanto ele recupera a chama que havia perdido em sua carreira, ela ganha a confiança para acreditar em seu talento, conhecendo a fama de forma instantânea.

A química explosiva no palco e no relacionamento dos personagens tocam o espectador. É algo natural em tela, desde o primeiro momento em que se encontram - durante uma lindíssima performance de “La Vie En Rose” por Gaga - até o desfecho da obra, que deve emocionar muita gente. As cenas da dupla cantando transmitem paixão, daquelas de cinema de gente grande mesmo, em que torcemos para que nada de ruim aconteça com aquele casal. Vale citar que Bradley Cooper fez questão de cantar cada canção, trazendo uma veracidade essencial a narrativa.

Foto: Warner Bros Pictures

Evidentemente não há como não citar a excepcional trilha sonora do longa. As músicas são contagiantes, com destaque para "Shallow", por ser apresentada com extremo cuidado, tendo o seu ápice no primeiro dueto ao vivo do casal, em uma cena em que a câmera acompanha de perto, meticulosamente, os atores em cena, elevando a carga emocional do espectador para a estratosfera.

Nasce Uma Estrela traz emoção verdadeira ao público, transmitindo todo o carinho e empenho de um estreante cineasta que se dedicou fielmente à sua obra. Cooper consegue captar em tela, nos diálogos e nas canções, os vínculos afetivos e as dores que os personagens carregam. E isso não é para qualquer um. Gaga, por sua vez, evidencia-se como atriz, ela que já é uma cantora prestigiadíssima. Tudo isso em um filme que prova que uma boa história, feita com carinho, pode brilhar forma diferente, às vezes tão boa ou melhor que a original. 

Excelente

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